Segue-me!

Nós vivemos neste mundo por nenhuma outra razão ou propósito senão ajudar outras pessoas. Se não fosse assim, seria melhor Deus tirar nossa respiração e nos deixar morrer tão logo tenhamos sido batizados e começamos a crer. Porém, ele nos deixa viver, para que nós possamos conduzir outras pessoas à fé, para que Deus faça com eles o que ele fez por nós” (Martinho Lutero).

Palavra Inicial

Os apóstolos deveriam seguir como testemunhas de Jesus de Jerusalém até Judéia e Samaria e, finalmente, até aos confins da terra. O alvo de sua missão foi dirigido para fora. Nós chamamos isto de movimento centrífugo do Evangelho. Em outras palavras, o Evangelho move de um centro para outras localidades. Martinho Lutero comparou este movimento centrífugo do Evangelho com uma pedra lançada em um lago, que causa ondas dirigidas para fora, num movimento concêntrico que se assemelha ao curso do Evangelho no mundo (Stolle, pp.24-25). Hoje, nós precisamos ver as jerusaléns, judéias, samarias e os confins da terra em nosso próprio contexto.

Jesus envia

Jesus também esteve envolvido em missões. Ele enviou seus discípulos para as cidades e vilas da terra da Judéia. Isto também se torna evidente nos textos da Grande Comissão, como Mateus 28.18-20:Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”, e ainda textos como: Marcos 16.15-16; Lucas 24.45-49; João 20.19-23.

A partir destas passagens, está ordenado à Igreja pregar e ensinar o Evangelho do perdão dos pecados somente em Cristo e batizar em nome do Deus triúno. Os discípulos realizaram estas tarefas sob a autoridade de Jesus Cristo. Eles foram embaixadores em lugar de Cristo, tendo sido enviados em um mundo onde não se aplicam fronteiras geográficas. “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5.20).

Objetivo

O propósito deste estudo/reflexão é pensar como os cristãos, como membros de uma congregação, podem sustentar a missão de Deus através da Igreja. Além disso, refletir no fato de que todos os cristãos podem e devem se ver a si mesmos sustentando esta missão através do seu próprio testemunho em sua vida e particularmente dentro de suas respectivas vocações. Cada cristão é um discípulo de Cristo, e compartilhar a fé tem muitíssimo a ver com o entendimento pessoal de cada um como um discípulo. Quando cristãos compartilham sua fé, o Espírito Santo vem para lhes garantir assistência e opera a fé nos corações daqueles que ouvem as palavras a respeito de Jesus.

Tudo começou no Batismo

Nosso chamado como discípulos de Cristo e testemunhas começou em nosso Batismo. Muitos de nós fomos batizados quando ainda éramos crianças recém-nascidas; porém, devemos lembrar que permanecer na condição de discípulo de Cristo exige compromisso e sacrifícios no decorrer de toda a nossa vida. Nosso Batismo influencia nossos relacionamentos com outros cristãos e também com aqueles que ainda não são cristãos. O mundo secular procura passar a ideia a cada cristão para simplesmente trabalhar e, assim, ficar rico. O que importa hoje é ter recursos e propriedades. Esse tipo de aspiração pode acabar atrapalhando o compromisso de alguém na tarefa de testemunhar e até mesmo de ser um cristão fiel.

Estes são alguns dos desafios que podem ser discutidos ao falarmos daquilo que espera os batizados em Cristo. É evidente, e isto deve ficar muito claro, que a posse de bens materiais é legítima e também sinal do favor de Deus, e, por isso, não está errado almejá-la. O ponto é se nossos corações ou a nossa confiança estarão neles, e eles acabarem se tornando a fonte de nossa esperança ou outros deuses.

Reflexão

Através do Batismo, você é chamado para ser um discípulo de Jesus Cristo. Como isto interfere nos seus relacionamentos com outras pessoas, com as posses materiais e com as outras coisas de sua vida?

Compare em sua Bíblia os textos de Mateus 6.24 e 1Timóteo 6.9-10 com 1Timóteo 6.17-19. O que podemos aprender sobre a questão das riquezas, sejam elas poucas ou abundantes? Quando elas atrapalham nossa esperança cristã? Quando elas, de fato, são bênçãos?

Deixar coisas para trás e resistir

Da mesma forma como a pregação de João Batista e do próprio Jesus Cristo chamando ao arrependimento e ao Batismo foi espalhada; da mesma forma como Cristo chamou Levi, o filho de Alfeu: “Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu” (Mc 2.14), ou Filipe para “me seguir” (Jo 1.43), cristãos também são chamados através do arrependimento e Batismo para seguir a Cristo e tornar-se seus seguidores. A resposta é um ato de obediência, e, como é Jesus quem convida, o cristão segue a Cristo sem pensar duas vezes, assim como fez Levi.

Se fizermos a lista dos nomes dos discípulos de acordo com o texto de Mateus 4.18-22 e olharmos para suas profissões, podemos ver que muitos eram pescadores e foram chamados por Cristo para serem “pescadores de homens”. Parece que estes discípulos não perderam tempo e optaram por seguir a Jesus tão logo foram chamados. Certamente, isto faz pensar no convite que Jesus fez e faz também a cada um de nós.

Por outro lado, vemos que, nas instruções de Jesus aos seus primeiros discípulos, ele fez algumas recomendações bem radicais, como: “Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento” (Mt 10.9-10). Deixar para trás todas as suas posses e levar consigo, pelo caminho, apenas algumas poucas “coisinhas”. Isto mostra que nada deveria atrapalhar e estar entre o discípulo e Cristo, em termos de causar distrações em seu chamado. Sua disposição em compartilhar o Evangelho também deve ser motivada pelo amor ao Senhor (Jo 14.24), o qual lhes permite fazer ajustes importantes em suas vidas, sem se sentirem coagidos a fazer dessa forma.

Paulo e muitos outros apóstolos e discípulos deixaram tudo para trás a fim de seguir a Cristo. Aqui, deve ficar claro que somente em razão da justificação do cristão, em ser perdoado e tendo recebido gratuitamente o dom da fé, é que este tipo de vida torna-se possível.

O Senhor que também nos envia também deixou a si próprio como um exemplo. Nós podemos até sofrer por ser testemunhas de Cristo (1Pe 2.21). Os cristãos deveriam estar preparados para, pacientemente, aguentar as consequências em compartilhar sua fé com outras pessoas. Cristãos podem ser censurados, discriminados e até perseguidos. É interessante notar que a palavra “testemunho” tem a raiz grega na palavra que significa “mártires”.

Em princípio, a Escritura registra apenas o martírio de Estevão (At 7.54-60), porém outras histórias da Igreja, dignas de confiança, mostram-nos que Pedro, Paulo e Tiago (At 12.2) também sofreram martírio por causa de Cristo. O volume 1 da História Ilustrada do Cristianismo, de Justo L. Gonzalez, descreve histórias de martírio como as de Inácio de Antioquia, Policarpo, Perpétua e outros, e a leitura desse registro histórico é valiosa.

Segundo um Dicionário Evangélico de Missões no Mundo, há em torno de 150 mil cristãos sendo mortos, por ano, por causa do Evangelho. Em 2025, a estimativa aponta para um crescimento neste número. Cerca de 600 mil cristãos, por ano, irão perder suas vidas.

Por isso, em nossas orações, devemos incluir regularmente em nossos pedidos a Deus que estenda a sua graça e coragem a todos os que sofrem ou são mártires por causa do seu nome em todo o mundo.

Entra na minha casa e na minha vida

A história de Zaqueu mostra, de uma maneira muito viva (Lc 19.1-9), como alguém que está na companhia de Jesus e crê nele relaciona de maneira diferente toda a sua vida, tanto seus pertences ou propriedades como seus padrões morais com a sua fé. Como vemos no registro do evangelista Lucas, nos versículos 5-9: Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa. Ele desceu a toda a pressa e o recebeu com alegria. Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador. Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão”.

Zaqueu, em resposta à presença de Jesus em sua vida e em sua casa, resolveu dar a metade dos seus bens aos pobres e prometeu que não iria mais enganar as pessoas. Dividir a metade dos bens com alguém pode parecer até um exagero, mas o céu é o limite. É importante observar que a liberdade para decidir o que fazer com os bens é de cada cristão individualmente.

Sacrifício vivo, santo e agradável a Deus

Ser justificado diante de Deus unicamente por sua graça, através do presente da fé em Cristo, impacta e interfere no relacionamento de alguém com o mundo e exige um estilo de vida que não se conforma com o espírito do mundo. O apóstolo Paulo diz em Romanos 12.1-3: “Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus. Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele. Por causa da bondade de Deus para comigo, me chamando para ser apóstolo, eu digo a todos vocês que não se achem melhores do que realmente são. Pelo contrário, pensem com humildade a respeito de vocês mesmos, e cada um julgue a si mesmo conforme a fé que Deus lhe deu” (NTLH).

A ideia de oferecer o corpo como um sacrifício vivo implica que tudo o que fizermos deve ser sem mancha e falha, com total devoção para a causa do testemunho. Os cristãos deveriam exercitar suas mentes e corações em procurar saber a vontade de Deus registrada na Escritura e então agir conforme essa vontade. Em outras palavras, ser um cristão significa que cada parte e ação de sua vida estão envolvidas.

Em poucas palavras

ü A missão dos apóstolos é serem testemunhas de Jesus. Desde Jerusalém, Judéia e Samaria até aos confins da terra.

ü Jesus concedeu à Igreja a missão de pregar e ensinar o Evangelho do perdão dos pecados somente em Cristo e batizar em nome do Deus triúno.

ü Nosso chamado como discípulos de Cristo e testemunhas começou em nosso Batismo.

ü O mundo procura passar a ideia de que a vida é trabalhar e ficar rico. O que importa hoje é ter recursos e propriedades. Isso, às vezes, acaba atrapalhando o compromisso de alguém na tarefa de testemunhar e até mesmo de ser um cristão fiel.

ü Posse de bens materiais é algo legítimo e também sinal do favor de Deus. O problema é quando esses bens ocupam o lugar de Deus, e colocamos neles a nossa confiança e esperança.

ü Paulo e muitos outros apóstolos e discípulos deixaram tudo para trás a fim de seguir a Cristo.

ü Ser justificado diante de Deus unicamente por sua graça, através do presente da fé em Cristo, interfere no relacionamento de alguém com o mundo e exige um estilo de vida que não se conforma com o espírito do mundo.

Lutero, explicando a petição do Pai-Nosso “Venha o teu reino”, diz:

“Porque a vinda do reino de Deus a nós ocorre de duas maneiras: primeiro aqui, no tempo, mediante a palavra e a fé; em seguida, na eternidade, pela revelação, na volta de Cristo. Agora pedimos ambas as coisas: que venha àqueles que ainda não estão nele, bem como a nós outros, que já o recebemos, por diário incremento e futuramente a vida eterna. Tudo isso outra coisa não é do que dizer: Amado Pai, pedimos que nos dês primeiro a tua Palavra, para que o evangelho seja pregado retamente em todo o mundo; em segundo lugar, que também seja aceito pela fé e atue e viva em nós, de forma que pela Palavra e poder do Espírito Santo o teu reino tenha curso entre nós e seja destruído o reino do diabo, para que não tenha direito nem poder sobre nós, até que, afinal, seja totalmente aniquilado, e o pecado, a morte e o inferno sejam exterminados, a fim de vivermos eternamente em plena justiça e bem-aventurança” (Catecismo Maior, p. 464, Livro de Concórdia, p. 53-54).

Fonte: Estudos Bíblicos – Série Espiritualidade – SCHU

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