A dívida dos idosos

Os idosos pais haviam sido muito abençoados por Deus. O Criador os abençoara com “comida, bebida, vestes, calçados, casa e lar, filhos, campos, gado, e todos os bens” necessários para um viver confortável. Mas o envelhecimento os dominou. Já sem grande vigor, reuniram os filhos e lhes distribuíram a maior parte dos bens. Nenhum filho foi omitido. Nos idosos pais não havia o menor sentimento de preocupação sobre sua manutenção futura. Pois além de boa reserva guardada, confiavam na boa vontade dos filhos.

Nisso, um dos filhos tomou coragem e disse aos pais: Prometemos, de coração, que sempre proveremos por vocês, mas nós ainda precisamos de vocês. Precisamos do seu olhar firme, mas carinhoso, agora quando nos despedem para os nossos lares, para que não percamos o rumo certo. Precisamos de suas palavras temperadas pela vida, para que nossos planos de vida sejam sábios. Precisamos de suas preces humildes e fiéis, para que o orgulho não nos derrote. Precisamos de sua proclamação do amor de Deus, para que no erro encontremos o caminho de volta ao que é divino no viver. Precisamos de sua paciência e esperança, quando o infortúnio nos quiser ocultar a visão do Deus gracioso.

Os idosos pais compreenderam que os bens terrenos que repartiram aos filhos não resumiam sua “dívida” para com eles. Era preciso repartir-lhes, e isso até seu último alento, as riquezas de sua vida espiritual. Pois o Deus triúno jamais lhes negara uma só das bênçãos do santo evangelho. Já desde a infância, haviam aprendido as “sagradas letras” das Escrituras. Haviam aprendido da lei de Deus que eram pecadores perdidos e que não mereciam o amor de Deus. Mas, também, haviam aprendido do evangelho que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para salvá-lo, e que ele também tinha a eles neste seu amor. Por isso eram filhos amados e salvos do Pai celeste. Crendo neste Deus gracioso e sempre presente com seus fiéis, participavam fielmente nos cultos e em seu lar faziam devoções diárias. Assim reuniram em suas almas um tesouro que “ladrões não podem escavar e roubar” e que o envelhecimento não “corrói”. O tesouro do viver rico na comunhão com Deus em Cristo é a dívida que os cristãos idosos devem aos filhos – e à sociedade.

Se a sociedade que nos cerca é tão perversa, violenta e perigosa, isso não é só culpa das autoridades civis, mas também, entre outros, dos idosos que não tiveram um “tesouro de fé em Cristo” para repartir com os seus descendentes quando estes partiram para a vida na sociedade.

Conta-se que um criminoso, quando foi sentenciado à longa prisão, dirigiu seu olhar pelas pessoas presentes, até que viu seus pais e, chorando, disse: Por que vocês não me alertaram e não me envolveram no amor de Deus?

O apóstolo Paulo aceitou e assumiu esta dívida de repartir o evangelho com quantos pôde atingir. Ele escreveu: “Sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma” (Rm 1.14s). Levado por este compromisso de repartir sua dívida espiritual para com todos, ele continuou: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16).

Você, que é cristão idoso, tem uma riqueza única para dar a muitos, em especial, aos seus próprios familiares. Seja pródigo no testemunho amável deste evangelho para com todos os seus queridos. Deus lhe garante que seu testemunho fiel e correto não ficará sem fruto. Acima de tudo, pelo evangelho Deus lhe concedeu a herança da vida eterna, quando o iluminou e guarda na fé no Salvador Jesus.

Deus conceda isso a você e, por seu testemunho, a seus queridos. Amém.

Eugenio Dauernheimer

Pastor emérito

Canoas, RS

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