Carta aberta aos trabalhadores

Que a carta seja lida a todos, determina Paulo no primeiro escrito dirigido a congregados, a Primeira Carta aos Tessalonicenses. O apóstolo fala de trabalho, dores, dificuldades, algumas delas superiores às forças de quem escreve. Mesmo distante, Paulo estava a serviço dos tessalonicenses, oferecia-lhes o que tinha, a própria vida se fosse necessário. Exprime-se de coração a coração, sem artifícios, rejeita truques retóricos, bajulações, demagogia. Por que não escreve o que sente com os seus próprios dedos? Não está excluída a hipótese de que trabalho operário tenha prejudicado os movimentos das mãos. O vigor de palavras transmitidas por ditado aquecia as frases que se alinhavam no papiro.

A carta revive nas ondulações da voz, avança no espaço, bate nas paredes, aproxima, irmana. Na sonoridade verbal vibra o entusiasmo de Paulo, a presença de Cristo. Os amigos de Tessalônica ouvem na entonação do leitor a voz do apóstolo, o ritmo, os desvios, considerações complementares. A carta é espontânea, corpo que pulsa, vence distâncias, vibra em ouvidos atentos, acende esperanças, atinge residentes nos lugares limítrofes. Fala sobre vida e morte, sobre a vida que renasce da morte.

As palavras lidas e ouvidas alicerçam o falar, a maneira de viver e conviver, palavras proferidas para organizarem vidas, palavras de ação animam ações, palavras que iluminam tarefas de todos os dias. Dizer confunde-se com viver; como a vida, o dizer se renova. Paulo responde a solicitações, as duas cartas aos tessalonicenses soam como conversa. Da troca de palavras nasce uma maneira renovada de encarar a vida.

Trabalhar é mais do que cuidar da sobrevivência, é estabelecer conexões de nós com a natureza, com os demais. Cristo retarda o retorno para nos dar oportunidade de conhecer, de agir. O trabalho une os que trabalham. Somos colaboradores, colaboramos com o Criador para estabelecer nova ordem no mundo degradado. A ociosidade improdutiva não beneficia ninguém. Em lugar da dependência, em lugar de horas vazias, trabalhos criativos. O ato criador não esbarra no trágico limite da morte.

O risco se levanta do anticristo, o culto ao homem em lugar do culto ao Criador. Culto ao homem é culto à morte, culto a Cristo é culto ao que venceu a morte, ao que doou vida aos mortais, vida que mantêm vivos os que labutam. Cristo liberta para a vida, o anticristo sujeita à morte. Para cultuadores do Deus vivo, a morte não pode ser o último capítulo, a mortalha não revestirá o futuro. No Cristo crucificado esplende a fonte da vida, o Deus de vivos gera vida, quem adormeceu em Cristo vive, definida está a existência experimentada na passagem do limitado ao caminho sem limites.

Séculos passam, palavras suscitam palavras, a história do cristianismo é uma história de palavras, a Palavra orienta palavras, trabalho. Solicitações novas reativam o discurso desde o primeiro texto até os últimos escritos. É justo que numa época como a nossa em que se enfatiza a multiplicação de produtos, sejamos alertados aos prejuízos causados por tarefas a cumprir em horas de lazer. Por que trabalhar com o único objetivo de aumentar a produção? O trabalho que aniquila o trabalhador não tem sentido. Reflexões sobre o trabalho acendem o cuidado devido aos que gastam meses e anos em inúteis filas de espera. Em lugar da competição, cultive-se a solidariedade, distribuam-se tarefas. Importa que ouvintes e leitores do trabalhador Paulo favoreçam todos. O dia em que todos possamos nos abraçar ativos e prósperos deverá alvorecer.

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