Nas ruas, as pessoas andam de passos largos, quase que correndo. Em casa, nos shoppings, em qualquer lugar, as pessoas grudadas no celular, nas redes sociais, clicando e fazendo várias coisas ao mesmo tempo. A tecnologia, que era para economizar tempo, está tirando cada vez mais o nosso tempo. E assim a vida está cada vez mais acelerada e repleta de coisas para fazer.
E tudo precisa funcionar, e logo. Ganha-se mais tempo e mais dinheiro. Mais tempo e mais dinheiro para chegar mais cedo ao local de trabalho e assim ganhar mais tempo e mais dinheiro. Dinheiro para comprar um carro mais rápido, um celular de última geração, um plano de Internet 4G. Se pudéssemos ser teletransportados, como na espaçonave Enterprise, da série cinematográfica Jornada nas Estrelas, ou então, pensar no lugar e chegar lá como se faz clicando nas viagens virtuais do Google Earth. Por enquanto, só no mundo virtual, na ficção científica! Por enquanto!
Mas quando é que a pressa vira mesmo doença? Por exemplo, quando alguém está conversando com você, você tem a tendência de apressar a fala dizendo: “Claro; Sim, sim; evidente!” Você sente um vago desconforto, um certo remorso, quando não está fazendo nada? Que coisas você faz ao mesmo tempo? Dirige e fala ao celular, lava louça e pega o celular? Fica irritado quando uma pessoa inclui detalhes demais na fala? Se for “sim” para todas essas perguntas, estamos com a síndrome da pressa, dizem os médicos.
A doença da pressa provoca, por tabela, a sensação de que o tempo passa mais depressa, do “já é Natal e fim de ano”. É um círculo vicioso, queremos pular fora, viver mais tranquilos e sossegados. Mas não conseguimos, porque até os pensamentos estão acelerados. Por isso o estresse e a ansiedade. Cerca de seis entre dez pacientes de clínica geral saem dos consultórios com receitas de tranquilizantes. Um bom número de alunos nas escolas é medicado com Ritalina, substância prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. O assunto é polêmico, mas comprova que a doença virou um dos males do século. O professor de pedagogia Douglas Tufano ilustra bem a dificuldade de lidar com seus alunos sobre essa questão e o seu empenho em tentar modificar esta maneira tão perniciosa de agir: “Vocês já repararam que ninguém mais, hoje em dia, tem tempo? Mal levantamos da cama e já estamos atrasados! O dia parece cada vez mais curto. Corremos de manhã até a noite e para tudo temos um horário apertado: falamos rapidamente ao telefone (não podemos perder tempo!), conversamos rapidamente com nossos filhos (não podemos perder tempo!), batucamos impacientes na mesinha do computador porque a conexão vai demorar trinta segundos (não podemos perder tempo!), enfiamos a comida na boca sem sentir bem o sabor dos alimentos (não podemos perder tempo!), engolimos o café e queimamos a língua porque ele demora a esfriar (não podemos perder tempo!), damos uma olhada no jornal, pulando páginas, misturando tudo (não podemos perder tempo!)… Afinal, para que queremos tempo?”.
No fim das contas, a ciência adverte: A pressa é inimiga da felicidade. “A pessoa que tem a síndrome da pressa, ela tem dentro dela uma sensação muito desagradável de que ela está lutando contra o tempo, que não vai dar tempo. Então ela começa a sentir aquela angústia muito grande. Ela está cronicamente correndo contra o tempo, cronicamente apressada”, explica Marilda Lipp, PhD em psicologia. E assim a pressa e o stress correm lado a lado. Especialistas explicam que elas desencadeiam a liberação excessiva de substâncias que aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial, como a adrenalina e o cortisol. Com o tempo, provocam derrames, infartos e queda do sistema imunológico.
Mas a pressa também é inimiga da Salvação. Tanto que o Advento, tempo de paciência para o Natal, perde o seu efeito, porque Advento é sentar, contemplar e esperar. João Batista, o protagonista bíblico desse período litúrgico da Igreja, precisa reaparecer no deserto que ficou barulhento e agitado. Ele surge como guarda de trânsito, com apito e caderninho de multas: “Preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele!”. Como que dizendo: “Parem no sinal vermelho, não ultrapassem o limite de velocidade, respeitem os sinais de trânsito”.
Agora, desconfio mesmo que nossa ânsia da pressa é porque estamos fora de rota, longe do caminho certo. Queremos até voltar, mas não sabemos como fazer o retorno. E a distância aumenta cada vez mais. E quando as luzes natalinas sinalizam, de forma insistente, o acesso, parece que o tempo voa ainda mais freneticamente. Ah, se não fosse a boa e saudável pressa de Deus em nos acalmar, estaríamos num caminho sem volta. Porque “hoje é o dia de ser salvo” (2Co 6.2). Vem, Senhor Deus, livra-nos da pressa e acalma o nosso coração.
*Texto publicado na edição de dezembro de 2014.