Autoestima: será tão importante quanto dizem por aí?

Só poderemos trabalhar, amar e servir melhor se estivermos fortalecidos e reconhecermos qualidades e valor (e valores!) em nós

Angele Bidone Lopes Fritsch
Psicóloga Clínica, Porto Alegre, RS
Membro Pleno do Corpo de Psicólogos Cristãos (CPPC)
Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
[email protected] / @angele_fritsch

Podemos dizer, sem medo de errar, que uma boa dose de autoestima e autoconfiança se faz muito necessária para enfrentar os desafios que a vida nos traz. Essas qualidades, quando presentes, ajudam-nos a levantar a cabeça e a seguir em frente nos momentos mais complexos e difíceis.

A autoestima é um dos pilares da resiliência, que é essa capacidade tão desejável de enfrentar situações difíceis sem sucumbir. Nós, como cristãos, podemos felizmente ser auxiliados pelas contribuições da psicologia com suas mais diversas linhas teóricas e pesquisas científicas, e, além disso, termos como abrigo e força nossa fé baseada em Jesus. Essa conjunção de fatores pode contribuir para uma espiritualidade saudável e sólida, que irá nos sustentar em períodos de desafios e de deserto.

Mas qual é, afinal, a definição de autoestima? Do que mesmo estamos falando aqui?

Autoestima é definida como o padrão de crenças que um indivíduo tem a respeito do quanto ele vale. É a parte subjetiva do autoconceito, a avaliação de si baseada em suas percepções sobre suas experiências pessoais, e acontece também através do feedback de pessoas significativas. Sendo assim, ela é um parâmetro de bem-estar muito importante, como veremos a seguir.

Quando apresentamos uma boa autoestima, ou seja, podemos reconhecer nosso próprio valor, ocorrem benefícios relevantes para todos os aspectos da nossa vida, como: nos sentirmos no direito de almejar uma vida satisfatória, podendo investir em nossos sonhos e nos relacionarmos com pessoas que podem oferecer o melhor delas e a cuidar de nós com reciprocidade e responsabilidade afetiva.

Já uma baixa autoestima tem trazido muitas dificuldades na autoconfiança das pessoas. A pessoa que sofre com fragilidade na autoestima passa a se considerar incapaz de vencer os desafios do dia a dia, a sentir que não merece cuidado e afeto e a pensar que não é digna de amor.

Algo que me chama muito a atenção na minha prática clínica é que, muitas vezes, chegam pessoas para tratamento que ouviram frases muito negativas sobre si, que não se confirmam na realidade, mas que exercem um impacto decisivo em sua autoimagem. São pessoas de muito valor, inteligentes, capazes, mas que sofrem com frases ditas por um familiar num momento “infeliz” e que reverberam por anos em suas mentes, até que essas pessoas encontrem atendimento.

No contexto da psicoterapia, nesse espaço de acolhimento, tais julgamentos podem ser ressignificados, pensados e tratados. Dessa forma, pode-se ver mais claramente o que é dela e o que é do outro, liberando a pessoa de conceitos injustos e equivocados colocados sobre ela.

Uma boa autoestima e o autocuidado andam de braços dados, pois cuidamos daquilo que tem valor para nós! Muito importante tomarmos conhecimento que até mesmo na Bíblia encontramos referências sobre essa necessidade de cuidar de nós mesmos, da mesma forma que tanto nos esforçamos para cuidar do próximo. Veja os seguintes versículos.

“Jesus respondeu: – ‘Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: ‘Ame o seu próximo como você ama a si mesmo’”(Mt 22.37-39).

Para os pastores, também há uma recomendação nesse sentido:

Cuidem de vocês mesmos e de todo rebanho […]”  (At 20.28).

Assim, cuidar-se (como na recomendação do descanso ao sétimo dia) é recomendação de Deus para nós!

Reforçando o que temos abordado, a autora Brené Brown, em seu livro, A coragem de ser imperfeito (2013), nos traz uma contribuição muito significativa:

Viver plenamente quer dizer abraçar a vida a partir de um sentimento de amor próprio. Isso significa cultivar coragem, compaixão e vínculos suficientes para acordar de manhã e pensar: ‘Não importa o que eu fizer hoje ou o que eu deixar de fazer, eu tenho o meu valor’. E ir para a cama à noite e dizer: ‘Sim, eu sou imperfeito, vulnerável e às vezes tenho medo, mas isso não muda a verdade de que também sou corajoso e merecedor de amor e aceitação’.

A verdade é que a autoestima é uma área de nossa vida da qual precisamos cuidar, investir e cultivar. Só poderemos trabalhar, amar e servir melhor se estivermos fortalecidos e reconhecermos qualidades e valor (e valores!) em nós. Isso faz sentido para você?

Ademais, é válido frisar que a autoestima não funciona como uma marca permanente, que se manterá para o resto da vida da mesma forma. Ela poderá ser alterada, reforçada, abalada e também melhorada em qualquer fase da vida.

Vale lembrar que suas palavras de bênção, de apreço e carinho ao ressaltar alguma qualidade de um filho, de um amigo, de um(a) namorado(a), noivo (a), marido (esposa), professora, pastor ou outro alguém importante para você tem um poder maravilhoso de fazer o bem e de fortalecer a autoestima deles.

Do contrário, palavras agressivas, ou até de “maldição”, ditas em momentos de ira impensada, também provocam danos na autoestima, muitas vezes trazendo feridas e beirando a um relacionamento emocionalmente abusivo.

Como cristãos, temos que lembrar a todo instante que somos valiosos. Afinal, Jesus nos valorizou e amou tanto a ponto de morrer por nós! Ele está com você, ama você e se importa, e MUITO, com você.

Ele quer cuidar de nós, de nossas fragilidades e também de nossa autoestima e a daqueles que amamos. Se mesmo refletindo sobre isso, você ainda sentir que pesam sobre você dificuldades dessa ordem, peça ajuda. Com certeza, dividir sua carga com alguém o tornará mais forte e aliviado.

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