Estamos fabricando cretinos digitais?

Recentemente adicionei às minhas leituras um livro que me tem chamado a atenção. Trata-se da obra A fábrica de cretinos digitais, do doutor em neurociência, Michel Desmurget. Nesse livro o autor chama a atenção de que, pela primeira vez na história da humanidade, a nova geração tem demonstrado um QI inferior à geração atual. Isso quer dizer que a geração que está chegando tem demostrado defasagem nas áreas do desenvolvimento e relacionamento humanos quando comparada com a geração atual. Será? Nunca na história humana tivemos tanto acesso à informação. Qualquer dúvida, sobre qualquer assunto pode ser buscado na palma da nossa mão, no celular! Então a lógica nos leva a pensar que estamos ficando mais inteligentes, mais aptos, mais hábeis. Contudo, não parece ser essa a constatação do professor Desmurget.

O livro aponta para o abuso no uso das telas digitais como o grande impulsionador desse fato. Ele faz uma reflexão sobre a utilidade e importância que temos dado aos dispositivos eletrônicos. Segundo ele, essa história de “nativos digitais” é uma lenda. O fato dos jovens e crianças serem especialistas em smartfones e aplicativos não os torna mais inteligentes ou perspicazes. Muito pelo contrário. Segundo Desmurget, a nova geração tem apresentado resultados aquém do esperado. Há uma grande diferença entre telas produtivas e telas recreativas. O problema não está no uso das ferramentas digitais, mas na forma e no tempo de uso em detrimento das atividades interpessoais como brincar, ler, praticar esportes, interagir com a família e amigos.

O que o autor defende pode ir ao encontro daquilo que nós, luteranos, chamamos de mordomia cristã. Sabemos que Deus é o dono de tudo e de todos e que somos seus administradores. Somos ensinados que precisamos ter equilíbrio na forma de administrar nosso corpo, nosso tempo, nossas habilidades, nosso dinheiro. Em nossa relação com o mundo digital não pode ser diferente. Precisamos equilibrar as atividades digitais com as demais atividades diárias. Nosso corpo precisa dos estímulos e exercícios adequados para ser saudável; nossa mente precisa do descanso apropriado para se recompor e aprender; nossa vida precisa da vivência e experiências que só a interação com outras pessoas pode trazer. E estar mergulhado o tempo todo no mundo digital não pode trazer essas coisas. Você que se preocupa com seu familiar, preste atenção nessas afirmações do dr. Michel:

a) as informações da internet geralmente carecem de rigor e confiabilidade;
b) o uso recreativo está excessivo e prejudica o sono, a leitura, as trocas interfamiliares, deveres escolares, práticas esportivas e artísticas;
c) prejudica o desenvolvimento intelectual, emocional e físico das crianças;
d) o cérebro não está adaptado à fúria digital. Para se construir, ele precisa de moderação sensorial; de presença humana, atividade física, de sono e de nutrição cognitiva favorável. O cérebro sujeito constantemente ao bombardeiro digital sofre e se constrói mal. Fica aquém de seu potencial.

O que fazer?

Segundo nosso autor, não podemos nos resignar e pensar que se trata de uma batalha perdida. Sempre há escolhas a fazer. Não se trata de proibir o uso, mas equilibrar. Para isso crie regras de consumo. Evite dar telas às crianças antes dos 6 anos. Ela não vai ficar deficiente digital se não usar um dispositivo eletrônico! Desaconselhe telas digitais nos quartos e cuide com conteúdo inadequado. Cuidado com o uso antes da escola e antes de dormir. Reorganize a ecologia familiar criando oportunidades novas para vocês.

O seu amor não precisa ser demonstrado comprando e permitindo tudo que é tipo de tela e dispositivo. Seu amor precisa ser demonstrado com diálogo, equilíbrio e regras. É sempre bom lembrar que “há tempo para tudo” (Ec 3), não é mesmo?

Jaques Cristiano Schlosser
Pastor
Manaus, AM

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