Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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Francisca Edviges Neves Gonzaga, (1847-1935), mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, foi uma compositora brasileira muito famosa. Também foi a primeira mulher a reger uma orquestra num Brasil permeado pelo patriarcalismo, isto é, não foi nada fácil para a musicista tecer notas. Ela compôs inúmeras marchinhas de Carnaval, sendo a primeira no ano de 1899, com o título: “Ó abre alas”, também título deste artigo. Pois bem, minha ideia não é escrever exatamente sobre a maestrina brasileira, ela foi apenas uma introdução para falar sobre algo que é movido pela música, ou seja, o Carnaval. E ele já está perto, vai ocorrer no dia 13 de fevereiro, terça-feira; claro, o final de semana que antecede o Carnaval já fica como complemento da festividade, assim como a segunda-feira.
Para alguns, é o abrir de alas para valer, é participar do Carnaval; para outros, nem tanto, são dias para o descanso e o estar em família. As mídias até apresentam os desfiles das escolas de samba, os carros alegóricos, fantasias, danças, muita música, alegria; no entanto, é interessante um olhar mais, digamos assim, cirúrgico para tal evento. Será que o Carnaval é apenas uma reunião de movimentos que visam o caminho da alegria e do colorido? Vamos pensar juntos, leitor.
CAMINHANDO POR ENTRE AS ALAS PSICOLÓGICAS
O fenômeno carnavalesco é tido como uma época de grandes festejos, infinita alegria, afinal, o Brasil é conhecido mundialmente como um país da hospitalidade e do calor humano. Ao mesmo tempo, as comemorações são como um romper do cotidiano das pessoas, tudo para, tudo fecha quase por inteiro. A título de curiosidade, leitor, o Carnaval foi importado pelos colonizadores portugueses, entre os séculos 14 e 17. A sua primeira manifestação ficou conhecida como “entrudo”, em outras palavras, era uma reunião de brincantes que ficavam jogando água, farinha, areia uns nos outros. Tal prática queria indicar que o mundo estaria de cabeça para baixo. O entrudo visou apontar para a subversão da ordem social, explicando: o que é certo virou errado; o que é errado virou certo. Com o declínio do entrudo, houve o surgimento do Carnaval propriamente dito.
Como já foi mencionado aqui, os movimentos carnavalescos acontecem com muitas fantasias, com muitas máscaras. Obviamente as mesmas são como pontes para a diversão, mas também são como transições para o sujeito destituir sua identidade, quem é ele no cotidiano; para assumir outros papéis sem culpa ou censura. Consequentemente e infelizmente, os excessos ocorrem com muita frequência, ceifando até vidas. Aglomerações destrutivas, uma vingança reprimida, substâncias psicoativas e assim por diante. O que era para ser colorido e brilhante, fica avermelhado e ofuscado.
Assim sendo, o Carnaval possui essa linha tênue, quer dizer, os foliões cedem aos seus impulsos e desejos mais ocultados, buscando por entre confetes e trios elétricos, efeitos catárticos. Almejam por um mundo desordenado e livre de qualquer amarra ética e moral.
ALA COMO UM CICLO
Sim, o Carnaval é como uma convenção, uma espécie de espaço temporal, onde o ser humano atina uma dita “liberdade” atrás de uma máscara de pierrot ou colombina. Um ciclo que acontece em um grande palco, onde a pessoa assume papéis, busca pela tão sonhada potência diante dos dilemas da vida. Encontra uma desejada realidade nos trapézios da fantasia. Carnaval é o desejo do indivíduo de preencher uma falta, encerrar uma lacuna, encontrar uma máscara perfeita e que supra tudo o que está esvaziado e disforme. Afinal de contas, qual ala que o ser humano almeja abrir?
A EFEMERIDADE DA MÁSCARA
Sim, a máscara termina, marchinhas findam, uma fantasia acaba, o Carnaval se encerra. Até os confetes espalhados no chão úmido também não duram. E a Palavra de Deus? De Jesus Cristo? Ela é eterna, reta e pura. Nada de ciclos, apenas eternidade, nada de máscaras ou fantasias, apenas o ser humano tal como ele é, pecador. Enquanto o paganismo exige folias mascaradas, o Filho de Deus pede um coração arrependido, sem penduricalhos ou apetrechos, sem maquiagens exageradas. Jesus quer somente o ser humano, ele quer simplesmente você. A genuína alegria está em Cristo Jesus, ou seja, nosso suficiente Senhor e Salvador tem todo o necessário para nós: perdão, vida e salvação. Jesus ocupa os vazios humanos, cuida das prostrações e fraquezas que habitam sua frágil carne. “Ó abre alas, que eu quero passar […]”, definitivamente, não. Prefiro assim: em Jesus Cristo podemos descansar. E vamos mesmo através de hinos de louvor, orações, leitura bíblica, estar em família, participação do culto do final de semana. Carnaval é participar da efemeridade, ser parte do Reino de Deus é participar da festa da eternidade.