A subjetividade contemporânea do rolar a tela do celular

O Tik Tok passa a predominar e compor o mundo intrapsíquico do ser humano. E tal composição atinge milhões de pessoas, como uma espécie de hipnose pandêmica.

Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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O Tik Tok é um aplicativo que possibilita compartilhar vídeos de curta duração. As produções são das mais variadas: podem alcançar conteúdos de cunho científico, até dancinhas de passos repetitivos, acompanhadas por melodias de curta duração. Para os que não são nativos digitais, isto é, os que não nasceram na era da disponibilidade rápida e acessível de tecnologias e conexões, determinadas convenções do ciberespaço soam como um sentimento carregado de estranhamento. Citando apenas um exemplo bastante corriqueiro: O marido pergunta à esposa onde está o filho deles? Ela, em poucas palavras, responde que ele está no quarto, gravando vídeo para o Tik Tok. O que eu quero dizer, leitor: há alguns anos atrás, as crianças brincavam em grupos,  de pique-esconde, pega-pega, jogavam bola e se divertiam de muitas outras formas. Claro, as fórmulas prontas vigentes aparecem: Os tempos mudaram, a época é outra, os relacionamentos humanos tomaram outras proporções, etc.

É sempre significativo lembrar de uma questão: o ato de brincar possui um importante papel na vida psíquica da criança; em outras palavras, a brincadeira é como um espaço de expressão do ser humano em desenvolvimento. A criança que brinca é alguém que lida com seus sentimentos e desejos, que elabora suas frustrações e ansiedades, que intervém no ambiente social com dinamicidade. Resumindo: a criança que brinca hoje é o adulto que amanhã saberá lidar com as circunstâncias e dramas da vida. Portanto, escrever sobre essas novas realidades e seus impactos emocionais é de suma importância.

AQUELE QUE ROLA A TELA DO CELULAR: UMA HIPNOSE PANDÊMICA

O que mais tem hoje são pessoas de cabeça baixa, ou seja, você as vê por toda a parte: caminhando pelas ruas, na parada de ônibus, na fila do banco, no metrô e em outras situações. Você pode até pensar: Estão tristes? Já adianto dizendo que não, geralmente elas estão cativadas pelas ações e imagens proporcionadas pelo programa do Tik Tok. Quando o dedo toca na tela do celular, conteúdos e mais conteúdos vão sendo deslizados, o indivíduo chega a se perder na imensidão da rede social de vídeos curtos, imerso em um constante estado de deslumbramento. Por conseguinte, a grande preocupação é quando o sujeito permite que sua vida fique trançada com as ofertas da plataforma, entregando sua vontade e identidade, ocasionando um contínuo processo de idealização, digo, a pessoa passa a ver o universo Tik Tok como seu abrigo virtual, construindo enredos através de imagens tidas como idílicas. O Tik Tok passa a predominar e compor o mundo intrapsíquico do ser humano. E tal composição atinge milhões de pessoas, como uma espécie de hipnose pandêmica.

O ADVENTO DO IDEAL DOS TIKTOKERS

Uma vida filmada é uma vida feita de recortes, edições, captação de imagens, entretanto, o material sem proveito vai para o descarte. Diferentemente da vida tal como ela é, com seus dramas, dores e angústias, um filme completo, quer dizer, o tiktoker, a pessoa que produz vídeos para o Tik Tok, oferece uma vida feliz por meio de imagens. Ser um tiktoker é se ver e ser visto em suas melhores partes. Ele projeta uma narrativa que visa, lá no fundo, alcançar a pepita de ouro da virtualidade: o reconhecimento do outro. Ao mesmo tempo, ele quer fazer escoar seus vazios e necessidades emocionais. Por isso, pais: acompanhem seus filhos que utilizam o Tik Tok, procurem perceber qual é o tipo de subjetividade que a imagem ou movimento tal está querendo produzir. Também brinquem mais com seus filhos, uma vez que, como cristãos, bem sabemos que as imagens do mundo passam, mas Palavra de Deus é eterna e é nela que o filho precisa direcionar sua singularidade.

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