“Só pela volta do Senhor Jesus!”

A comunicação está cada vez mais difícil, pois todos têm muito a falar, a provar ou a questionar, mas poucos têm a ouvir e demonstrar empatia. Devemos perder as esperanças? Onde estamos dentro dessa desordem? Qual a ligação disso tudo com a saúde mental?

Psi Ms. Daniela von Mühlen
Psicóloga Relacional Sistêmica – Terapeuta de Casal e Família
https://danielavonmuhlen.com/ ou @danielavonm

         Aqui em casa lembramos seguidamente de uma história que aconteceu alguns anos atrás. Meu marido trabalhava em uma escola do interior do Rio Grande do Sul e tinha o hábito de conversar com os funcionários. Certa vez, o porteiro da escola estava indignado com o que via na escola. Pasmem, ele não estava indignado com o comportamento das crianças, estava, sim, indignado com o comportamento dos pais, mães e responsáveis pelas crianças.

          Contava que era impossível organizar a entrada e saída de carros da escola, pois os pais simplesmente ignoravam as regras do estacionamento e tráfego interno na hora de deixar e buscar os pequenos. Se ele repreendia alguém, ganhava caras tortas e palavreados chulos.

Sua esposa trabalhava na cantina da escola e se admirava com o número de mães que ficavam a tarde toda dentro das dependências do colégio fofocando; se reuniam e observavam a escola simplesmente para criticar e tumultuar. Quando era sugerido que fossem para casa, ficavam extremamente ofendidas e criticavam ainda mais.

          E os grupos de whatsapp? Ahhhh… esses “bombavam”! Pais, mães e responsáveis pelas crianças não mediam palavras para criticar, reclamar e deturpar situações. Nosso amigo porteiro falava então: “Pastor, eu tô só pela volta do Senhor Jesus”, num tom que era entendido que não havia mais o que fazer ou esperar daquela situação.

          Depois dessa história acontecer, vivemos o período de pandemia mundial, vivemos mudanças climáticas terríveis (enchentes, secas, vendavais, etc.), vivemos crises financeiras e polarização política. As coisas complicaram bastante.

          A comunicação está cada vez mais difícil, pois todos têm muito a falar, a provar ou a questionar, mas poucos tem a ouvir e demonstrar empatia. Devemos perder as esperanças? Onde estamos dentro dessa desordem? Qual a ligação disso tudo com a saúde mental?

          Bom, a Psicologia, como ciência, estuda a dinâmica dos grupos, os movimentos sociais, as escolhas humanas, seus comportamentos individuais e coletivos, e muito mais.

Em pesquisas e experimentos sociais, um dos fatores já bem conhecidos e utilizados é o pertencimento. Ouvimos falar do pertencimento desde a infância: a relação da criança com sua família, os primeiros contatos com seus pares na idade escolar, as escolhas de grupos da adolescência, a vida profissional na idade adulta, o lazer e os hobbies, além de grupos de ajuda. Muitos diagnósticos vêm trazendo à tona a busca por um pertencimento e explicações do porquê as pessoas fazem o que fazem.

O pertencimento tem relação com modelos, referências, exemplo a ser seguido. Se você pertence a um grupo, é porque se identificou com hábitos, exemplos ou atividades daquele grupo.

          Pessoas fazem coisas estranhas na tentativa de pertencer a um grupo. E o grupo dos que se acham pensadores autênticos cresce a cada dia. São chamados carinhosamente de cientistas ingênuos, pois apresentam suas teorias baseados em atribuições de causa e efeito sem levar em consideração fatores relacionais, ou seja, a influência do ambiente.

          Agora pare e pense. A qual grupo você pertence? Quais ideias o conquistam? O que você faz pelo seu grupo? Como seu grupo vem interferindo na sua vida?

          Você é do grupo que segue as leis de trânsito ou do grupo que para rapidinho na vaga de cadeirante do estacionamento? Você é do grupo que está disposto a um diálogo aberto com a intensão de aprender ou do grupo da fofoca? Você é do grupo que critica no WhatsApp alguém ou alguma postagem ou você é do grupo que apoia e incentiva?

          Bom, independentemente do grupo a que você pertence, os pequeninos estão observando. Assim como os filhos daqueles pais lá da escola observavam e replicavam os comportamentos de seus pais em sala de aula, também agora os mais jovens vivem de acordo com o que o ambiente e os exemplos dos mais velhos ensinam.

          Mesmo na tentativa de fazer diferente, os mais jovens observam e têm seus modelos baseados nas atitudes e comportamentos que você apresenta. Isso mesmo, a geração anterior tem muita responsabilidade sobre os comportamentos da geração mais jovem, portanto, antes de apontar e criticar, pare e pense em qual exemplo você está dando na escola, no trânsito, na igreja, nas redes sociais ou nos grupos de WhatsApp.

          Somos raça eleita de Deus, somos corpo de Cristo, pertencemos a este grupo. Mas, somos pecadores. Todos nós. E nessa certeza devemos a cada dia contribuir para o bem de todos.

Que a frase “Só pela volta do Senhor Jesus!” seja de incentivo e testemunho cristão e não um grito de desesperança.

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