Cintia Hoffmann
Psicóloga
Amar parece natural — afinal, todos nós desejamos amar e ser amados. Mas será que sabemos realmente como amar de verdade? Quando olhamos para os relacionamentos à nossa volta (e talvez até para os nossos), percebemos que o amor exige mais do que sentimentos: ele pede maturidade, paciência, compromisso e fé.
A boa notícia é que o amor pode ser aprendido e fortalecido. Como psicóloga e cristã, quero te convidar a refletir sobre atitudes práticas e princípios bíblicos que constroem relacionamentos mais saudáveis, profundos e duradouros. Este artigo não traz fórmulas mágicas, mas caminhos possíveis.
A REALIDADE DOS CONFLITOS
Estudos mostram que aproximadamente 69% dos conflitos nos casais não têm uma solução definitiva. Eles nascem de diferenças profundas: gostos, hábitos, valores. Um pode ser mais reservado, o outro mais expansivo; um gosta de planejar tudo, o outro prefere deixar as coisas acontecerem. Tentar mudar o outro apenas desgasta.
Aceitar não é o mesmo que concordar com tudo, mas é escolher amar apesar de. E isso é profundamente bíblico.
“Acima de tudo isso, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.” (Cl 3.14)
O amor que une não é o que exige perfeição, mas o que cobre imperfeições com paciência, respeito e graça.
DESENTENDIMENTOS SÃO NORMAIS
Até os casais mais felizes discutem. O segredo não está em evitar o conflito, mas em aprender a lidar com ele com sabedoria. Imagine um casal em que um chega atrasado ao compromisso e o outro fica frustrado. Em vez de gritar ou se calar por dias, dizer com calma “me senti deixado de lado” já muda o tom da conversa.
“Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.”
(Tg 1.19)
Esse conselho bíblico é extremamente útil e prático. Ouvir com atenção antes de reagir pode ser o início de uma reconciliação, de um entendimento, ao invés de uma briga.
COMPORTAMENTOS QUE PREJUDICAM O RELACIONAMENTO
Alguns comportamentos são tão danosos que podem, com o tempo, destruir a relação:
- Críticas pessoais: atacar o caráter do outro em vez de conversar sobre atitudes específicas.
- Desprezo e sarcasmo: pequenos gestos como revirar os olhos, zombar ou rir de forma irônica.
- Defensividade constante: nunca reconhecer erro, culpando sempre o outro.
- Inundação emocional: discussões frequentes e intensas podem gerar exaustão e afastamento.
Lembre-se que as palavras têm poder. Quando usadas com amor, constroem pontes. Quando usadas com ira, levantam muros.
EVITE RELAÇÕES BASEADAS EM CHANTAGEM EMOCIONAL
“Se você me amasse de verdade, faria isso por mim.” “Depois de tudo que eu fiz por você, é assim que você me retribui?”
Frases assim minam a liberdade emocional e a confiança. A chantagem pode parecer inofensiva, mas enfraquece o respeito.
“No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.” (1 Jo 4.18)
O amor verdadeiro não manipula, não pressiona, não gera medo. Ele é espaço seguro onde ambos se sentem aceitos.
ENTÃO O QUE FAZER PARA UM RELACIONAMENTO DAR CERTO?
1. Cultive a amizade
Relacionamentos duradouros são feitos de pequenas alegrias diárias. Assistir a um filme juntos, rir das próprias piadas internas, caminhar de mãos dadas — tudo isso fortalece os laços. O cônjuge é, antes de tudo, um companheiro para a vida. Valorize essa amizade.
2. Comunicação com amor e verdade
Falar com franqueza é essencial, mas o tom faz toda a diferença. Fale com empatia, escute com o coração aberto. A verdade não precisa machucar. Quando ela vem envolta em amor, transforma.
3. Aceitação mútua
Cada um carrega suas falhas e cicatrizes. Amar é acolher o outro, mesmo nas imperfeições. Quando aprendemos a olhar o outro com os olhos de Cristo, o perdão e a compreensão se tornam mais naturais.
4. Invista no que é bom
Pesquisas mostram que, para cada momento negativo, casais felizes vivem ao menos cinco positivos. Pequenos gestos, como um elogio ou um bilhete carinhoso, são como sementes que florescem com o tempo. Foque nas qualidades do outro. Lembre-se sempre: aquilo que alimentamos cresce.
5. Intimidade emocional e espiritual
Mais do que carinho físico, a intimidade envolve confiança, escuta e fé compartilhada. Orar juntos, por exemplo, cria um elo profundo. Um relacionamento que convida Jesus para o centro é mais forte nas tempestades e mais leve nos dias difíceis.
CONCLUSÃO
Amar de verdade é um processo. É aprender a ouvir, perdoar, acolher as falhas do outro, e, também, reconhecer as próprias limitações. É lembrar que o amor não é só sobre o que sentimos, mas principalmente sobre o que oferecemos.
Na vida cristã, aprendemos que o amor que vem de Deus é a nossa maior fonte. Quando buscamos esse amor em primeiro lugar, somos capacitados a amar de forma mais sábia, generosa e paciente. Relacionamentos fortes não se constroem sozinhos, nem de um dia para o outro — mas passo a passo, com humildade, diálogo e fé.
“Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.” (1 Jo 4.19)
Quando recebemos esse amor que nos transforma, somos também capazes de oferecê-lo a quem está ao nosso lado. Que você possa viver um relacionamento com propósito, equilíbrio e esperança, tendo como base o amor que vem de Deus.