A velhice, em geral, não é uma fase fácil. Mas a partir do nascimento já começamos a envelhecer. Isso é um processo natural, que faz parte da vida.
Infelizmente, em nossa sociedade, envelhecer é passar de uma vida ativa para uma vida passiva. E isso significa que no momento da aposentadoria, as pessoas idosas deixam de fazer para que os outros façam, desta forma ficando limitados e isolados; alguns chegam a perder a razão de viver. Além disso, muitos ainda têm de ouvir expressões pejorativas como: “Sai da frente, velho!”, “Seu pé-na-cova!”, “Seu gagá!”, e por aí vão os adjetivos dados ao idoso.
Estamos vivendo numa era digital, em que as informações são rápidas, com a comunicação cada dia mais intensa. A vida se resume em produzir, e, no entender de muitos, o idoso já não pode mais produzir de maneira rápida.
Ao envelhecer, o ser humano fica mais lento, o reflexo diminui, a agilidade não é mais a mesma, enfim, tudo começa a mudar. Na sociedade não existe mais lugar para ele, e, portanto, ele é descartado, deixado de lado. E isso leva à preocupação, porque hoje o mundo está mais velho. Nas últimas três décadas, o número e a proporção de idosos cresceu rapidamente. Em 2050, a população mundial de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a um total de dois bilhões, o que significará uma importante mudança no perfil demográfico do mundo, com consequências para todos (conforme dados da Organização das Nações Unidas – ONU).
Deus usou pessoas “idosas” para o seu trabalho. Noé tinha 600 anos quando entrou na arca (Gn 9.28-29); na sua velhice, Sara concebeu e deu à luz um filho (Gn 21.2); e ainda poderíamos falar dos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) e da profetiza Ana (Lc 2.36). E como não falar dos anciãos citados na Bíblia? Moisés era assistido por 70 anciãos (Nm 11.16-24); anciãos são citados no Apocalipse (4.4; 5.5-6; 7.11; 19.4). Na comunidade israelita, o ancião era uma pessoa com autoridade (Êx 3.16,18; Nm 11.16-17, 24-30). E chama a atenção a atitude de Josué (sucessor de Moisés), que usou de sabedoria, aprendeu com Moisés, andou à sua sombra e, após a morte deste, guiou o povo até a terra prometida, continuando de maneira brilhante o trabalho de seu mestre.
Lutamos contra a discriminação, mas discriminamos nossos idosos nos lares e na Igreja. Que possamos ouvir, ajudar, compreender, e que as nossas igrejas estejam cheias deles.
Envelhecer é um privilégio. É importante ressaltar que o idoso tem um papel importante em todas as sociedades. Eles são líderes, trabalhadores, aposentados, detentores de sabedoria, avós, cuidadores e voluntários.
Vamos olhar para o idoso como ser humano criado e amado por Deus, que tem sentimentos, merece respeito e carinho.
Que Deus nos lembre sempre do valor da vida.
Que nunca haja um “tarde demais” para perdoar, servir e amar.
“Uma vida longa é a recompensa das pessoas honestas; os seus cabelos brancos são uma coroa de glória” (Pv 16.31).
Neusa Ivone Dietrich Hoffmann
*Texto publicado no Mensageiro Luterano de setembro de 2016.