Meu Ministério

Lema da formatura: “Deus me deu o trabalho de defender o Evangelho” (Fp 1.16)

Meu nome é Tito Martinho Lang, sou pastor e filho de pastor. Nasci no dia 31 de março de 1939, na cidade de Marcelino Ramos, RS. O nome do meu pai é Antônio Reinoldo e de minha mãe é Lina Heringer. Tive cinco irmãos: Ester Olga, Sara Amanda, Léa Martha, Samuel Titus e Paulo Clemente – três já falecidos. Fui batizado, pelo meu pai, nove dias depois do meu nascimento.

Muitas coisas aconteceram na minha vida desde então. Lembro-me que, quando eu era pequeno, no auge da Segunda Guerra e da proibição da língua alemã aqui no Brasil, passavam muitos soldados com fuzis no ombro na frente da nossa casa, pois a ponte ferroviária sobre o rio Uruguai, única ligação entre o Sul e o resto do Brasil, ficava perto da casa. Num desses dias, minha mãe, que amava cantar louvores ao nosso Deus em alemão, estava cantando na sala o hino “Grande Deus, o teu louvor”, quando um soldado, do lado de fora, me derrubou e pôs seu coturno sobre minha cabeça, questionando sobre a voz da minha mãe em alemão. Uma das minhas irmãs, vendo a cena, foi correndo trocar o hinário alemão para o português e, junto com a mamãe, cantaram bem alto o hino, indo em direção à porta para que o soldado ouvisse. Me dirigi, então, ao soldado e falei que o que ele achava que era alemão, na verdade era português. Como ele se convenceu, pude levantar e tirar meu rosto de debaixo do coturno e do chão. Foi uma das vezes em que senti Deus realmente presente em nossas vidas.

De Marcelino Ramos, fomos morar em Conventos, RS. Lá, meu pai adoeceu e fomos morar de aluguel em Lajeado, pois ele não podia mais ministrar os cultos. Após algum tempo, tivemos de nos mudar para Porto Alegre, RS, para que papai continuasse com seu tratamento.

Minha mãe, para ajudar com as despesas, fazia costuras, e minhas outras irmãs e irmão mais velho começaram a trabalhar para ajudar nossos pais. Meu irmão Paulinho ainda era pequeno e ficava com a mamãe em casa.

Morar em Porto Alegre, mais precisamente na Rua Alegrete, no bairro Petrópolis, foi uma bênção. Esse bairro e rua eram bem diferentes de hoje. Ali moravam várias famílias afrodescendentes. Brinquei com as crianças e aprendi valores que carrego até hoje. Ao saírem de casa, eles recebiam a bênção dos pais e ao voltarem, também. Os mais velhos eram respeitados, todo trabalho era enobrecido e havia ajuda mútua. Eu e meus amigos trabalhávamos juntando papel, osso, vidro e ferro, e toda semana passava o carroceiro e comprava o que tínhamos juntado, cujo dinheiro era levado diretamente para as nossas mães. Trabalhávamos também fazendo limpeza nos pátios das casas, e o pagamento era um prato de feijão e arroz, ao meio-dia, ou um copo de vitamina, se fosse pela manhã ou à tarde.

Certo dia, um casal que morava na rua Itaqui abriu uma casa que entregava viandas. Nós fomos convidados para fazer as entregas. Não sei quantas os meus amiguinhos entregavam, mas eu fiquei responsável por cinco, todas entre 11h30min e 13 horas. Para assumir esse compromisso, eu teria que sair da escola mais cedo. Eu frequentava a Escola Concórdia, no bairro Mont’ Serrat. Conversando com o diretor, fui autorizado a sair meia hora antes do fim da aula. Era uma corrida! Venci, conseguindo cumprir minha tarefa e receber meus pagamentos!

Diariamente almoçávamos na pensão. Eu era o único alemão. E a dona Chica, que trabalhava lá, sempre comentava que era muito estranho eu ser o único loiro de olho azul por ali. Então eles denominaram nossa turminha como Trinca do Alemãozinho, e, assim, todos sabiam quem nós éramos. Não me lembro de uma briga, palavrões, responder ou não obedecer aos pais. Nós admirávamos os catadores de papel e de ferro. Olhávamos os lixeiros correndo atrás dos caminhões e saltando e voltando aos estribos, observávamos os motoristas desses caminhões e pensávamos em um dia trabalhar como eles.

Quando eu estava terminando o primário, fui chamado pelo diretor da escola – como era costume dele perguntar a cada um dos alunos que tinham concluído o quinto ano para saber o que pensávamos sobre nosso futuro. Quando chegou a minha vez, ele me chamou e perguntou: “Tito, o que tu vais fazer, em que tu vais trabalhar agora que concluíste o quinto ano?” E eu, que já tinha toda a bagagem de trabalho na rua Alegrete, respondi, sem pestanejar: “Senhor Diretor, eu vou catar papel ou vou ser lixeiro. Se não der, talvez eu seja motorista ou mecânico”. Ele me olhou surpreso e retrucou: “Não, Tito, tu vais ser pastor. Já falei no Seminário. Chama teu pai amanhã”. No outro dia, lá estava o papai falando com o professor, e, no outro ano, eu estava no Seminário da Lucas de Oliveira, onde permaneci até a formatura.

Em 23 maio de 1964, noivei com minha querida Ieda Clarisse Fleck, de quem fui amigo e namorado durante sete anos. Casamos no civil no dia 31 de dezembro de 1964, e no dia 2 de janeiro de 1965, casamos no religioso, com a bênção do meu pai, também na Congregação Concórdia, de Porto Alegre. Um dia antes do nosso casamento civil, dia 30 de dezembro, minha irmã Ester faleceu, por esse motivo não realizamos nenhuma festa. Como o bolo já estava pronto, os pastores convidaram a todos para comer uma fatia de torta com guaraná. Somando os anos de amizade, namoro e noivado e mais os 58 anos de casados, estamos juntos há 65 anos. Deus nos abençoou com duas filhas, Tânia Marisse e Tatiana Mara. Temos dois netos, Eduardo e André, e um genro, Anderson.

Um mês depois do casamento, saímos de mudança para a localidade de Maquiné, município de Osório, RS. Fui instalado e ordenado no dia 2 de fevereiro de 1965. Foi com muita felicidade que iniciamos o trabalho sob o lema de minha formatura: “Estou incumbido da defesa do Evangelho” (Fp 1.16).

Depois de Maquiné, fomos a Linha Ferraz, município de Vera Cruz, RS. De lá para Três Vendas, bairro de Pelotas, RS. Em Três Vendas, a Comissão Missionária nos entregou o Comissionamento para evangelização em Foz do Iguaçu, PR. Estávamos prontos para o nosso novo lar. Carregamos um caminhão com nossos pertences para a mudança. Mas Deus nos preparava outra tarefa, pois infelizmente o caminhão que transportava nossa mudança chocou-se com um outro, carregado de tábuas. O nosso motorista faleceu na hora, e, da nossa bagagem, salvamos apenas alguns livros que estavam em caixas de madeira e algumas outras coisas pequenas. Com essa situação, meu nome foi colocado na lista de chamados, quando, então, fui para a cidade de Dois Irmãos, RS. De Dois Irmãos, fomos a Santo Antônio da Patrulha, RS. Chegamos no mês de fevereiro, época de início de ano letivo e da procura de professores para ministrar aulas em escolas particulares. O diretor de uma escola ficou sabendo que eu tinha curso superior e me convidou para lecionar a partir de março. Foi o que aconteceu. Fui muito bem recebido como professor. Eu era conhecido como professor na cidade e não como pastor. A Ieda também conseguiu dar aulas em uma escola pública, pois formou-se professora.

Não conhecia ninguém, mas sempre dava o meu testemunho nas aulas de História. Um dia, quando fui até a Rádio local, denominada Itapuí, para saber das possibilidades de iniciar um programa religioso da Hora Luterana, encontrei dois ex-congregados meus da época que eu era pastor em Maquiné. A partir desse momento tudo mudou. Os dois espalharam na cidade e em lugares do interior que um pastor estava morando em Santo Antônio da Patrulha. Através dessas informações, pastores que atendiam a região me procuraram e, com as autorizações deles, comecei a atender a região e as comunidades que formaram uma Paróquia, fundada pelo Secretário de Missão da época.

Nesse mesmo dia da fundação da Paróquia em Santo Antônio, recebi um Chamado para Estrela, RS, e senti que o Espírito Santo queria que eu aceitasse esse desafio.

Novamente uma mudança, sabendo que Deus estava guiando os meus passos para cumprir o meu lema de formatura.

Um ano depois, recebi e aceitei um convite para trabalhar em Sapiranga, RS, sem chamado e sem ser instalado. Este trabalho que Deus me preparou foi curto, e acabamos voltando para a Paróquia de Santo Antônio da Patrulha. Não muito tempo depois, mandaram-me um chamado da cidade de Igrejinha, RS, onde trabalhei até quando resolvemos morar em Porto Alegre. Filiei-me à Congregação de Viamão, e o pastor recebeu-me muito bem. Na primeira oportunidade que ele teve, levou-me até as praias de Pinhal e Cidreira, pontos de pregação, e me apresentou como pastor. Lá, depois de algumas tratativas, fui autorizado e aceito por ele e pelos congregados presentes, de forma unânime em reunião, para exercer o ministério nessas duas localidades. Passado um tempo, o pastor conselheiro do Distrito Litoral Norte Gaúcho me procurou para eu atender Capão da Canoa. Estando nesse Distrito, a Congregação Boa União, Três Forquilhas, que já me conhecia da época em que trabalhei em Maquiné, me chamou e fui instalado, com a bênção de Deus.

Nessa época, minhas filhas ficaram em Porto Alegre, por causa de seus estudos e trabalhos, a Ieda se dividia entre elas e eu. Mas, mais uma vez, por obra de nosso Senhor, chamaram-me de volta à cidade de Santo Antônio da Patrulha, onde permaneci até receber o título de Pastor Emérito.

Voltei a Porto Alegre para ficar perto da minha família e nos filiamos à Congregação Castelo Forte, bairro Jardim Leopoldina. No culto em que entreguei a minha transferência ao pastor, este foi desinstalado e, naquela hora, o pastor conselheiro do Distrito Porto-Alegrense, que estava fazendo a desinstalação, convidou-me para atender interinamente a Comunidade. Após ministrar alguns cultos na Castelo Forte, eles souberam que um pastor emérito ainda podia ser chamado, e então me entregaram o Chamado para atender também a Congregação Martinho Lutero, no bairro Glória. Nessa nova Paróquia, dois lugares, sempre com a bênção de Deus, trabalhei até os meus 50 anos de Ministério.

Provavelmente, a pergunta que surge neste momento é: por que tantos lugares? Podem ter certeza: não foi minha vontade, mas foi com a permissão de Deus. Ele permitiu, e o Espírito Santo me guiou. Em todos os lugares não deixei de anunciar o evangelho, pregar a Cristo, conhecer melhor a minha IELB, conhecer mais pastores e observar seu agir, e procurava sempre aproveitar o melhor no meu programa ministerial. Foi muito gratificante e ainda hoje continua sendo, pelo fato de ter feito tantos amigos em todos esses lugares.

Hoje, quando escrevo este artigo, dia dos meus 84 anos, recebi um telefonema, e a pessoa que falava comigo disse: “Pastor Tito, fique sabendo que o senhor e a dona Ieda moram no meu coração e no da minha esposa”. Isso me anima muito, me alegra, e agradeço a Deus essas bênçãos. Quantas vezes penso em visitar a todos em todos os locais onde trabalhei e agradecer as amizades e o carinho com que fomos recebidos.

Que Deus abençoe a mensagem do evangelho e que, através do Espírito Santo, ela chegue aos corações dos ouvintes. Não se acanhem, pastores, de trocar e trocar de lugares. É melhor do que ficar anos e anos na mesma paróquia. Acho que tenho experiência para dar esse conselho.

Um afetuoso abraço a todos.

Tito Martinho Lang

Pastor Tito Martinho Lang

Nascimento: 31/03/1939, em Marcelino Ramos, RS

Filho do Rev. Antônio Reinoldo Lang e de Lina Lang

Formatura: 29/11/1964

Ordenação: 02/02/1965, em Maquiné, RS

Casamento: 02/01/1965

Esposa: Ieda Clarisse Lang, nascida em 04/09/1943

Filha de Arnildo Lindolfo Fleck e de Elly Bender Fleck

Filhos: Tânia Marisse e Tatiana Mara

Locais em que serviu:

Cerro Branco, RS – Betel – 01.01.1963-31.12.1963 – Estágio

Maquiné, RS – Sião – Linha Cachoeira – 1965-1966

Vera Cruz, RS – Cristã – Ferraz – 1966-1969

Pelotas, RS – Cristo Redentor – Três Vendas – 1969-1970

Dois Irmãos, RS – São Miguel – 1970-1974

Santo Antônio da Patrulha, RS – Concórdia – 1975-1976

Estrela, RS – Trindade – 1977-1980

Sapiranga, RS – São Mateus – 1980-1981

Santo Antônio da Patrulha, RS – Concórdia – 1981-1983

Igrejinha, RS – Redentor – 1984-1988

Licenciamento do ministério – 1989-1996

Três Forquilhas, RS – São Paulo – Boa União – 1996-1999

Santo Antônio da Patrulha, RS – Concórdia – 1999-2007

Porto Alegre, RS – Castelo Forte – Jardim Leopoldina – 2010-2014

Emérito desde 02/05/2007

Mora em Porto Alegre, RS

(Com o apoio das filhas Tânia e Tatiana e da irmã Sara, e da secretaria da IELB.)

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