Luise Lüdke Dolny
Psicóloga
Florianópolis, SC
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A sexualidade não é um tema muito abordado nas comunidades cristãs. Mesmo sabendo que é uma bênção de Deus, o desconforto em falar sobre esse tema impossibilita que, como cristãos, possamos entender e diferenciar os comportamentos sexuais saudáveis dos disfuncionais.
Um desses comportamentos disfuncionais é o consumo de pornografia.
Como cristãos, sabemos que a pornografia é pecado. Veja o que a Bíblia diz: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não cometa adultério’. Mas eu lhes digo: quem olhar para uma mulher e desejar possuí-la já cometeu adultério no seu coração’” (Mt 5.27).
Porém, o fato de sermos cristãos não nos livra desse perigo. No Brasil, estima-se que 2 em cada 3 cristãos acessam pornografia pelo menos uma vez por mês. Dentre os “evangélicos”, 57,38% admitem acessar conteúdo pornográfico pelo menos uma vez por mês, enquanto 72,73% dos católicos admitem acessar (Dolny, 2017).
Apesar dos esforços da indústria pornográfica em pregar que a pornografia não é um problema, a psicologia e demais ciências da saúde têm apontado uma outra direção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, em 2022, a atualização da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), onde reconhece o diagnóstico de “Transtorno de Comportamento Sexual Compulsivo” descrevendo que este pode ser expresso em uma variedade de comportamentos, incluindo masturbação, uso de pornografia, cibersexo e outras formas de comportamento sexual intenso e repetitivo que tragam prejuízo à saúde.
A pornografia atua de maneira semelhante ao alcoolismo, jogos, drogas, etc., em nosso cérebro, desregulando o sistema dopaminérgico de recompensa. A cada vez que se consome pornografia, a dopamina é liberada, fazendo com que o cérebro entenda que aquilo é algo bom. Porém, quanto maior é o consumo, mais o cérebro se acostuma com isso e a necessidade de mais e mais liberação de dopamina leva ao comportamento repetitivo e cada vez mais intenso, gerando uma escalada de comportamentos prejudiciais e sofrimento (aumenta o nível de violência, pornografia infantil, etc.).
Dessa forma, as coisas boas e prazerosas da vida como contemplar a natureza e praticar esportes ficam cada vez menos interessantes, levando ao isolamento, prejuízos à vida social, familiar, conjugal, profissional, espiritual, normalização da traição e da violência, objetificação da mulher, além de gerar disfunção erétil e trazer expectativas distorcidas para o sexo. A vida perde a cor, e isso é muito sério!
Cada vez mais cristãos sofrem sozinhos, mergulhados em culpa quando percebem que estão viciados em pornografia. Esse é um tema que precisa ser descortinado nas igrejas. As congregações podem apoiar essas pessoas, fazer campanhas sobre os males da pornografia, promover orientação aos pais e às crianças sobre como se protegerem (porque a pornografia entra na vida das pessoas cada vez mais cedo!), incentivar o tratamento psicológico, ou seja, trazer uma mensagem de cuidado, perdão e cura para essas pessoas.
Se você está vivendo essa terrível realidade, busque ajuda profissional. Há tratamento e maneiras de viver a vida que Deus planejou para você. Jesus disse: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês” (Mt 11.28).
Como você e sua congregação têm trabalhado e estudado sobre este assunto?
Referências
DOLNY, Miguel. Hábitos no consumo de pornografia. Hora Luterana, São Paulo: 2017.
World Health Organization. ICD-11 for mortality and morbidity statistics. Geneva: WHO; 2022. Available from: https://icd.who.int/browse11/l-m/en. Versão em português: https://icd.who.int/browse/2024-01/mms/pt