Os adultos gostam dos números. As estatísticas que o digam. Em meio à pandemia, estamos diariamente atentos aos números: infectados, suspeitos, em quarentena, curados ou mortos. Quantos leitos de UTI ainda restam. Quantos irão morrer na fila de espera. Quantos milhões foram destinados ao combate do vírus. Queremos estar informados dos números do COVID-19 em nossa cidade, estado e mundo.
Em determinadas áreas da vida, quanto maiores forem os números, mais importante torna-se a pessoa. Às vezes, medimos as pessoas também pelos números. Transcrevo aqui um pequeno trecho de um clássico da literatura que diz assim: “As pessoas grandes adoram números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, as pessoas grandes jamais se interessam em saber como ele realmente é. Não perguntam nunca: ‘Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que ele coleciona borboletas? Mas perguntam: qual é a sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto seu pai ganha? Somente assim é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado… elas não conseguem de modo algum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: ‘Vi uma casa de seiscentos mil reais’. Então elas exclamam: ‘Que beleza!’” (Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe).
Numa sociedade que valoriza o ter e não o ser, os números sempre ocupam espaço quase central em nossas rodas de conversa. Ainda bem que há números e estatísticas que apenas o Senhor conhece, nos estão encobertos, mas causariam pavor se nos fossem revelados plenamente. Davi inicia o salmo 139 dizendo: “Ó Senhor Deus, tu me examinas e me conheces”. O Senhor conhece nossa vida, nada há encoberto aos olhos de Deus. Nenhum fio de cabelo cai de nossas cabeças sem que o Senhor saiba. Conhece nossos pensamentos, a palavra não nos chegou a língua e ele já sabe o que iremos dizer. A Palavra do Senhor nos lembra: “Se tu tivesses feito uma lista dos nossos pecados, quem escaparia da condenação?” (Salmo 130.3). Imaginemos por um instante as estatísticas que Deus faz de nossas vidas. Os nossos números escancarados aos olhos daquele que tudo conhece.
Quantos pecados cometemos diariamente? Quais estariam no topo das estatísticas? Egoísmo? Hipocrisia? Avareza? Cobiça? Inveja secreta? Mentira? Traição? Novamente o salmista Davi afirma que o perverso, “deitado na sua cama, ele planeja maldades. Ele anda por caminhos que não são bons e nunca rejeita as coisas más” (Salmo 36.4). Quantas noites mal dormidas pensando numa forma de retribuir o mal que alguém possa ter nos causado. E os assassinatos? Pois “quem odeia o seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem em si a vida eterna” (1João 3.15) Seria assustador vermos estes números em planilhas de Excel, estatísticas bem elaboradas e precisas, sem margens de erro. Mas o amor de Deus cobre multidão de pecados. “Mas, se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é correto: ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade” (1João 1.9), porque o “sangue de Jesus nos limpa de todo pecado” (1Jo 1.7). E quando o Senhor perdoa, ele também esquece. Mas o arrependimento verdadeiro também implica em mudança de vida.
Há um momento na liturgia do culto luterano em que o pastor pergunta à igreja depois de terem confessado seus pecados: “É esta a sincera confissão de vocês, que estão de fato arrependidos de seus pecados, creem em Jesus Cristo e têm a sincera e firme intenção de corrigir a sua vida pecaminosa, com a ajuda de Deus Espírito Santo?”. É como se o próprio Cristo estivesse nos perguntando: A tua confissão foi sincera? Se foi, vai em paz! Os teus pecados estão perdoados. A tua fé te salvou. Vai e não peques mais. Muda de vida.
Consolador saber que o Senhor é rico em misericórdia e não leva em conta nossas estatísticas desastrosas. O Senhor não deseja que ninguém se perca, mas que todos cheguem ao pleno conhecimento da verdade que liberta, restaura e salva. E já que as pessoas grandes gostam de números, concluo esta breve reflexão com as palavras de Jesus: “Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lucas 15.7).
Pastor Elvio E. Erdmann
Comunidade Evangélica Luterana Rio Claro, MT