Digamos que um cristão convide outra pessoa para vir ao culto na Igreja Luterana, dizendo algo mais ou menos assim: “O culto é bem legal. É dirigido a Deus, mas, como você sabe, Deus é um só e é sempre o mesmo Deus”. Quanto tempo iria demorar até que esse eventual visitante viesse a descobrir que não é bem assim, que o culto luterano não é um culto genérico, mas um culto especificamente cristão? Não seria necessário ir além da Invocação (“Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”), bem no começo! Isto, é claro, se o hino inicial não for de caráter trinitário, concluindo com uma doxologia (em que a congregação é convidada a se pôr de pé). Por exemplo, o hino “Santo, Santo, Santo” (número 154 do Hinário Luterano), no final da última estrofe diz assim: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Consolador! Todos os remidos cantam teu louvor”. Cantado no início do culto, esse hino já deixa claro a quem se dirige o louvor daquela igreja.
O culto cristão confessa aquilo que é tipicamente cristão, numa comparação com outras religiões monoteístas: a existência de um só Deus em três pessoas. Em outras palavras, a confissão da Trindade faz do culto cristão um culto especificamente cristão.
E esse caráter trinitário se repete ao longo da liturgia. Na Confissão e Absolvição, pedimos que Deus não nos condene por amor de Jesus Cristo e nos console com o Espírito Santo. E o pastor perdoa os nossos pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
O Introito e/ou a recitação do Salmo do dia conclui com o Gloria Patri (“Glória ao Pai”), que é, na realidade, o “Glória ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo…”. Esta, dizemos, é uma maneira de “cristianizar” os Salmos, aparecendo ao final de todas as leituras dos Salmos. Logo em seguida, no culto, vem o Kyrie (“Ó Senhor”), feito de três partes, que podem ser vistas como tendo uma estrutura trinitária. O Gloria in Excelsis (“Glória nas alturas”) é um cântico de louvor dirigido a “Deus Pai Todo-Poderoso”, ao “Filho Unigênito” que, “juntamente com o Espírito Santo”, é o Altíssimo na glória de Deus Pai. Depois, a Coleta ou Oração do dia costuma concluir com uma referência à Trindade. A confissão de fé (o Credo) tem uma estrutura trinitária, na medida em que confessa o Criador, o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo.
Poderá haver mais elementos trinitários durante o culto. Quando este se encerra, com a bênção, a estrutura é, no mínimo, tríplice, para não dizer trinitária: “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz”.
Portanto, o culto cristão histórico, assim como é celebrado na Igreja Luterana, não é um culto genérico em que cada um pode preencher mentalmente com o que entende pela palavra “Deus”. Trata-se de um culto bem definido, dirigido à Santíssima Trindade.
Para não ficar apenas no campo teórico, que tal uma sugestão prática? O Hinário já sugere que a igreja se coloque de pé, na última estrofe de um hino, quando houver referência à Trindade. Que tal inclinar levemente a cabeça, sempre que houver uma referência à Trindade? Sendo o nosso culto um tanto quanto “estático” ou desprovido de movimentos, é um pequeno gesto de adoração que, além do mais, mostra que estamos conscientes de que nosso culto se dirige ao Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.