Luise Lüdke Dolny
Psicóloga CRP 12/09392
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Você sofre tentando se comunicar com as pessoas? Fica variando entre engolir sapos, sem conseguir falar o que pensa, ou soltando os cachorros, falando de uma maneira impensada e talvez grosseira?
Pois é, muitas pessoas se sentem frustradas sem saber como se comunicar melhor, mas existe uma abordagem que pode lhe ajudar nesse desafio, a Comunicação Não Violenta (CNV).
O psicólogo Marshal Rosenberg, criador da abordagem da CNV, quando criança, mudou-se com a família para Detroit, EUA, na década de 1960, período em que a cidade era marcada pela segregação racial. Na escola, apanhava e sofria preconceito por ser de família judia, e, desde muito pequeno, buscou entender os motivos da intolerância e da violência entre as pessoas.
Desde cedo, aprendemos a nos comunicar de uma maneira binária, que acaba nos afastando uns dos outros e pode ser um motivo de conflitos e violência. Nos comunicamos na medida do:
- certo versus errado
- bom versus mal
- inocente versus culpado
Percebem o quanto esse tipo de comunicação nos coloca em lados opostos?
Rosenberg propõe um caminho diferente, baseando a comunicação em algo que nos aproxima e que todos nós temos em comum: as necessidades.
De uma maneira bem simplificada, ele propõe que sejamos compassivos para (1) ouvir com atenção e sem julgamentos as necessidades dos outros; e que (2) sejamos autênticos e verdadeiros ao comunicar nossas próprias necessidades. A ideia é que seja uma relação ganha-ganha, e que se possa chegar a soluções que contemplem as necessidades de ambas as partes.
Para nos comunicarmos melhor, precisamos então compreender quais são as nossas necessidades. Você sabe identificar as suas? É preciso pensar sobre isso antes de ter conversas importantes. Segue uma lista de necessidades para ajudá-lo a identificar o que você possa estar precisando neste momento (acesse aqui).
Segundo a CNV, os comportamentos e a comunicação agressiva são uma expressão trágica de necessidades que não foram atendidas. Quando olhamos além do comportamento e conseguimos enxergar a necessidade por detrás dele, temos mais chances de ter uma comunicação mais assertiva.
Ele propõe quatro componentes que podem nos ajudar a direcionar a comunicação de uma maneira mais assertiva e respeitosa
1. Observação (em vez de julgamento): observe o que está acontecendo de fato.
2. Sentimentos (em vez de avaliações): identifique o que está sentindo em relação ao que se observa. Nomeie o que está sentindo: raiva, frustração, alegria, tristeza.
3. Necessidades (em vez de estratégias): informe suas necessidades, valores e desejos que estão conectados aos sentimentos que nomeou (veja a lista no link acima).
4. Pedidos (em vez de ordens): peça o que deseja de forma concreta, o outro não é obrigado a adivinhar.
EXEMPLO:
- (Observação da realidade) Quando converso com você e você continua mexendo no celular…
- (sentimento) me sinto irritada,
- (necessidade) gostaria de ter a sua atenção enquanto conversamos…
- (pedido) você poderia deixar o celular de lado enquanto conversamos?
Percebam que em vez de apontar o que está errado no outro, o foco está no que eu estou sentindo e precisando?
É possível também partir do que percebemos de necessidade no outro. Aqui você considera o que pode ser a necessidade de outra pessoa e também as suas necessidades. Por exemplo, sua chefe joga o relatório na mesa gritando e dizendo que ficou horrível e que você precisa refazer tudo:
- (Observação da realidade) Vejo que nós duas queremos entregar o nosso melhor para esse projeto. A gente quer que ele dê certo. E você falou agora que por esse caminho não vai dar e vamos ter que refazer.
- (Sentimento): Você já falou isso em outras reuniões e percebo que talvez esteja se sentindo frustrada por essa expectativa não ser atendida. Do meu lado, também fico desapontada. Queria chegar na reunião e entregar o que você espera.
- (Necessidade) Ao mesmo tempo, realmente não tenho muitas informações pra fazer isso dar certo. Preciso tirar dúvidas com você.
- (Pedido) Será que a gente não pode dar uns dois passos para trás e realinhar essas instruções?
Importante! Usar esses componentes não é algo que vamos aplicar e ter resultados de cara, é um processo que pode gerar desconforto, que vai exigir entrega e adaptação de toda uma maneira de enxergar o mundo. Vai exigir intenção em fazer diferente.
É importante dizer também que você não precisa concordar com a fala da pessoa, mas pode buscar enxergar a necessidade por trás do comportamento dela e tentar entender o seu ponto de vista. Quando alguém fala, “Você nunca está satisfeito com o que eu faço!”, que necessidade pode estar por trás diss? Talvez reconhecimento e valorização. Quando alguém fala, “Você abre exceções para todo mundo, menos para mim!”, qual necessidade ela está expressando? Talvez necessidade de igualdade e justiça.
Também não precisa falar dos seus sentimentos para todo mundo, avalie se o outro está disposto a ouvir.
É um exercício que exige bastante prática. Não podemos controlar a reação do outro, mas temos que assumir a responsabilidade do que sentimos e como agimos diante das nossas necessidades.
A Bíblia nos diz sobre a importância que as palavras e o jeito de falar as coisas têm, como em Provérbios 12.18: “Há palavras que ferem como espada, mas a língua dos sábios traz a cura”. Se você tem dificuldades em se comunicar, saiba que essa é uma habilidade que você pode e consegue desenvolver. Peça ajuda, procure por um profissional da psicologia. Você conseguirá melhorar!
Você já tinha ouvido falar da CNV? O que achou dessa abordagem? Conte pra gente o que achou, se já a praticou de alguma maneira, como foi sua experiência fazendo isso ou suas dificuldades. Vamos conversar mais?
Parabéns pelo artigo. Você o abordou de modo sensato, oportunizando a nós leitores compreender, antes de tudo sobre paciência. Paciência para avaliarmos nossa linguagem comunicacional, se está ou não efetiva. E a paciência em compreender que o estágio de amadurecimento do outro não está sob meu controle, mas talvez sob a minha influência.
Aguardamos por mais artigos nesse gabarito.
Olá! Fico muito feliz em ver que o artigo foi proveitoso e tenha promovido a reflexão. Deus nos ajude a melhorarmos cada vez mais essa habilidade fundamental em nossas vidas, com muita paciência e amor! Se tiver alguma sugestão de tema na área da saúde mental que queira registrar, podemos nos organizar para produzir material sobre. Abraços em Cristo! Luise