Você tem um grande amor na sua vida?

A bíblia, em 2Pedro 1.5-7, nos diz como o amor é resultado de um processo de dedicação, esforço, comprometimento, responsabilidade e respeito

 Márcia Cristina Beck
 Psicóloga clínica
 CRP 07/26980
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Encontrar um grande amor sempre foi um horizonte almejado e buscado pelas pessoas através dos tempos, não é mesmo?

A vivência de relações significativas na vida do ser humano se mostra primordial para que sua vida tenha sentido, a partir do momento que a abertura ao outro pressupõe a possibilidade de uma vida afetiva. O outro é sempre mistério, representa o desconhecido que pode ser um risco, mas também uma possibilidade de encontro, de acolhimento, de sentido de vida (CARDELLA, 2009).

A afetividade é um sentimento extremamente essencial para a saúde mental de todas as pessoas. A preocupação com o outro é, antes de tudo, a experiência de uma sensação, de um estado de espírito, no qual se respeita esse outro como se ele fosse nós mesmos.

A arte de amar exige se esforçar diariamente; sem esse esforço ou dedicação, se mostra tão improvável de se realizar quanto querer ganhar na loteria sem fazer a aposta, e isso mostra mais uma vez a ambivalência do indivíduo contemporâneo, ávido por amar, mas com tão pouca paciência e disponibilidade para tolerar todas as responsabilidades que esse ato traz consigo. Abrir-se ao outro, acreditar nele e viver através dele se torna cada vez mais difícil.

Na atualidade, os relacionamentos virtuais surgem como tendência, marcados pela facilidade aos usuários de se conectar e desconectar das pessoas, não havendo, necessariamente, comprometimento com o outro.

E nessa onda de relacionamentos virtuais, ao nos desconectarmos deste mundo de infinitas possibilidades, a vida se torna cada vez mais deserta, uma vez que os relacionamentos não são feitos com pessoas reais, e sim com pessoas virtuais.

Outro status de relacionamento afetivo contemporâneo é o conhecido “ficar”. Esse fenômeno é caracterizado por relacionamentos breves com ausência de responsabilidade e compromisso emocional entre os envolvidos. No “ficar”, os laços estabelecidos são tão frouxos que ficam mais suscetíveis a se desfazer, isso porque não há regras pré-determinadas, sobretudo de compromisso. A liberdade de expressão é o que importa, podendo mudar se os parceiros entrarem em acordo para a criação de regras. Bauman (2004) designa este fenômeno de “relacionamentos de bolso”, que nada mais são que relações que podem ser desfrutadas assim que o indivíduo julgar necessário, e no momento que deixarem de ser benéficas, é só voltar a guardá-las.

A bíblia, em 2Pedro 1.5-7, nos diz como o amor é resultado de um processo de dedicação, esforço, comprometimento, responsabilidade e respeito: “Por isso mesmo façam todo o possível para juntar a bondade à fé que vocês têm. À bondade juntem o conhecimento e ao conhecimento, o domínio próprio. Ao domínio próprio juntem a perseverança e à perseverança, a devoção a Deus. A essa devoção juntem a amizade cristã e à amizade cristã juntem o amor”.

Ao nos relacionarmos afetivamente, precisamos estar dispostos a entrar em uma aventura de conhecimento, tanto de si quanto do outro. E desvelar-se para o outro requer confiança, que quer dizer ter fé que a outra pessoa terá a capacidade de agir com integridade e que será seu “porto seguro” quando precisar (CARDELLA, 2009; GIDDENS, 1993). Segundo Giddens (1993, p.155) “Confiar em alguém significa renunciar às oportunidades de controlá-lo ou de forçar as suas atividades dentro de algum molde particular”. Assim a experiência de confiança demonstra a construção da intimidade na relação, processo que passa por várias etapas e desafios.

A entrega é conquistada quando o casal é capaz de continuar se envolvendo com o outro a partir do acolhimento da alteridade, sem a tentativa de manter o poder e o controle da relação. É preciso, também, ter conhecimento que em um relacionamento duradouro há momentos que cada um terá que ceder e renunciar para assim se aproximar cada vez mais do outro.

Enfim, como cristãos, devemos ter em mente que podemos viver algumas paixões, sim, mas encontrar um grande amor significa ter compromisso nas relações.

Compromisso é alcançar a intimidade, é permitir que o outro entre na nossa vida. É sonhar junto sem se sentir ameaçado, marcar um horário sem se sentir controlado, dividir o espaço sem se sentir invadido. É recuar sem se sentir invalidado, é abrir mão quando necessário sem sentir frustrado. Compromisso não é falta de liberdade. Compromisso é o “exercício” da liberdade de estar com alguém.

Em uma relação saudável, deve haver o compromisso em “via de mão dupla”; o compromisso deve ser recíproco e equilibrado, deve ser amparado e construído a partir do grande e infinito amor de Deus por nós.

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

CARDELLA, B.H.P. Laços e Nós: amor e intimidade nas relações humanas. São Paulo: Ágora, 2009.

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Ed. Unesp, 1993.

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Comentários

  1. Que abordagem profunda incisiva e ao mesmo tempo amorosa. Sinto que as pessoas, comuns, sem “instrução na psicologia ” estão cada vez mais agressivas em suas abordagens. Parece que ferir esta sendo preferido a falar com amor. Gostei muito.

  2. Texto maravilhoso, mas, na minha opinião, utópico. Atualmente, as pessoas estão se fechando em suas conchas, com medo da entrega. Com isso, as relações têm se transformado em relações liquidas, como nos disse Bauman. Tem sido menos doloroso manter relações virtuais, já que são descartáveis. E, com isso, estamos cada vez mais, nos isolando.

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