Você, ou alguém que você conheça, já pensou alguma vez em agendar um horário com um psicólogo ou uma consulta com um psiquiatra, mas desistiu por se sentir envergonhado? Você já presenciou conversas em que fizeram brincadeirinhas ridicularizando pessoas com transtornos mentais? Talvez situações em que foi negado trabalho a uma pessoa em tratamento de um transtorno mental?
É provável que você já tenha vivenciado situações parecidas com essas e elas podem estar inseridas em um contexto de psicofobia. Você sabe o que é isso?
Psicofobia é o termo usado para representar o preconceito em relação a pessoas que sofrem com transtornos e deficiências mentais.
Esse termo foi criado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP), Antônio Geraldo da Silva, após uma entrevista exclusiva que realizou em 2011 com o humorista Chico Anysio, que quebrou o silêncio e falou pela primeira vez sobre o tratamento para depressão que fazia há 24 anos, e o receio que tinha em falar sobre isso.
Historicamente fomos aprendendo a relacionar transtornos mentais como sinal de fraqueza, como desculpa para preguiça, como mimimi.
É interessante como é socialmente aceitável que uma pessoa com hipertensão, diabetes, disfunção renal, faça tratamentos médicos; porém, infelizmente, o tratamento de transtornos mentais como depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção, autismo, esquizofrenia, bipolaridade não tem a mesma aceitação e incentivo. A sociedade, em geral, tem grande dificuldade em aceitar que a mente e o cérebro também adoecem.
A tendência é termos atitudes de depreciação do sofrimento do outro, de isolamento, de julgamento (muitas vezes dizendo que é falta de fé) e de ridicularização, o que não ajuda em nada a pessoa que sofre com esses transtornos.
E precisamos levar em consideração que a incidência de transtornos mentais vem aumentando no mundo, e especialmente na região das Américas. O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com prevalência de 9,3% da população e o quarto com maior prevalência de depressão. Quadro que aumentou significativamente no contexto da pandemia.
Estimativas apontam que 1 em cada 4 pessoas desenvolverá algum tipo de transtorno mental ao longo da vida, então precisamos tratar esse assunto com mais seriedade e menos preconceito, buscando aprender mais sobre os transtornos mentais que ainda estão envoltos em muitas ideias fantasiosas, tabus e mitos.
Não vivemos mais naquela época em que pouco se sabia sobre transtornos mentais e que a melhor opção era isolar as pessoas em sofrimento psíquico; mas o preconceito e a discriminação perduram até hoje.
Um estudo do Ibope revelou que metade da população brasileira não entende depressão como uma doença, mas como uma tristeza passageira ou uma dor da alma. 39% dos participantes adolescentes afirmaram que, caso recebessem o diagnóstico de depressão, não revelariam para familiares. No grupo jovem (18 a 24 anos), 56% declararam que não mencionariam o diagnóstico de depressão no ambiente de trabalho ou acadêmico (escola/faculdade). Outro dado problemático aponta que 29% deles não acreditam que a depressão possa ser tratada. Percebem que o desconhecimento e o preconceito estão impedindo pessoas de acessarem tratamentos adequados?
Isso é muito sério, precisamos parar com as piadinhas pejorativas do estilo, “Ahh aquele cara estranho só pode ser autista”; “Ahh ele é burro, tem TDAH”; “Ahh quem toma medicamento psiquiátrico é louco”; “Fica longe do fulano porque ele é louco, pode ser violento”; “Ahh não podemos contratar fulano porque ele é depressivo”, etc.
A ciência tem avançado muito no estudo destes transtornos e existem muitas evidências que comprovam a eficácia do tratamento medicamentoso e psicoterapêutico com alta porcentagem de remissão e manejo dos sintomas. Existe tratamento eficaz e pessoas com transtornos mentais podem ter uma vida produtiva como qualquer outra pessoa que sofra de diabetes, pressão arterial, etc.
Mas o que podemos fazer para combater o preconceito e a psicofobia?
1. Escute com atenção e acolhimento, sem julgamentos;
2. incentive a busca por apoio profissional (e procure você por apoio, se precisar);
3. ofereça-se para ajudar a procurar um psicólogo/psiquiatra, ofereça-se para acompanhar (e peça, você, ajuda a alguém confiável, caso precisar);
4. informe-se sobre saúde mental e transtornos mentais (esta coluna do ML online está aqui para ajudar você nessa missão!).
E lembre-se, eu e nossa equipe estamos à disposição para auxiliar você, é só entrar em contato!
E aí, vamos combater juntos a psicofobia?
Com carinho,
Luise Lüdke Dolny
Psicóloga CRP 12/09392
[email protected]
(48) 99645 4143