George Carlos Felten
Pastor-capelão do Colégio Luterano Arthur Konrath
Estância Velha, RS
De quantos dos seus professores você consegue se lembrar? Esse é um exercício interessante, pois tenho quase certeza de que você se lembrou daquelas professoras das séries iniciais que mais lhe ajudaram, acolheram e trataram com um amor quase materno: um olhar de atenção especial, uma fala mais doce, uma condução mais amorosa. A isso chamamos de “vínculo”, coisa sem a qual a educação se torna praticamente impossível. Como diz o teólogo, escritor e ex-professor da UNICAMP, Rubem Alves: “Só aprendemos porque amamos o professor”.[1]
Paulo caracteriza o pastor como alguém “apto a ensinar” (1Tm 2.24). Mas o que significa isso? Significa que o pastor é o responsável primário pelo ensino cristão na congregação, e, se não existe ensino sem que haja vínculos estabelecidos entre os sujeitos da aprendizagem, logo, na instrução de confirmandos, a relação entre o pastor e o confirmando deve ser a mais afetiva possível.
Talvez o leitor agora esteja pensando: “Ih, lá vem um defensor da baderna e da ausência de limites na sala de aula!” Como pastor e professor de Ensino Religioso, obviamente não sou defensor de ausência de autoridade, mas aqui pode-se evocar as frases do famoso pensador contemporâneo, Mario Sergio Cortella: “Autoridade não é autoritarismo, e alegria não é o contrário de seriedade”.[2]
Mas resta a pergunta: como criar vínculo com alguém que não conheço?
A realidade de muitas congregações nos aponta para uma triste conclusão: a instrução de confirmandos é o primeiro contato consciente de muitas pessoas com a igreja. Muitos são os casos de famílias que batizam a criança e não seguem trazendo-a para os cultos e a escola bíblica infantil, e, por isso, com belíssimas exceções, além de um conhecimento muito raso das histórias bíblicas, o confirmando pode carregar diversos preconceitos sobre a igreja, seus membros ou o pastor, mesmo sem os conhecer.
Cabe ao pastor quebrar este preconceito o quanto antes. Os meios são os mais variados possíveis, mas a forma sempre será a mesma: o interesse pela vida dos confirmandos. Eles são novos, sim, mas têm histórias, experiências, vivências, ideias, e precisam ser ouvidos para então ser entendidos e trabalhados.
Além disso, dinâmicas com bastante interação e que mexam não só com a mente, mas também com o corpo e os sentimentos, cativam os pequenos cristãos através do exemplo do pastor apaixonado pela Bíblia, pelo seu ensino, e também pelos seus alunos (Mt 7.29). Lembre-se: um confirmando só poderá estar presente por completo na instrução quando o seu pastor estiver também.
Mas e você, lembra-se quem foram todos os seus pastores? Se o pastor deve ser apto a ensinar, por que não parafrasear Paulo e dizer que ele deve ser “apto a vincular” também? O fato é que o vínculo entre pastor e confirmando influenciará muito na forma como eles encararão a vida na igreja dali em diante.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=kwO5F90DuIY – “Encontro com Rubem Alves”
[2] https://www.youtube.com/watch?v=7bywstc8YF8 – “Mario Sergio Cortella responde: Qual a relação entre afetividade, vínculo e aprendizagem?”