As águas do dilúvio inundaram a terra

Essa salvação “através da água” do dilúvio tornou-se, na visão do apóstolo Pedro, um protótipo ou modelo do batismo, que “agora também salva vocês”. Água mata, mas água também salva. Em meio a enchentes e lembranças do dilúvio, que tal lembrarmos também que água salva? Fomos, de fato, salvos “através da água”, no batismo. Por meio dessa água são salvas não apenas oito pessoas, mas milhares, milhões, uma multidão tão grande que ninguém poderá contar.

       Uma enchente ou inundação, seja grande ou pequena, quase sempre lembra o dilúvio do tempo de Noé, quando “as águas inundaram a terra” (Gn 7.5). Diante do impacto da enchente no Rio Grande do Sul em maio de 2024, cabe uma reflexão sobre o dilúvio bíblico.

Fatos a respeito do dilúvio

               O termo “dilúvio” aparece na Bíblia. Em Gênesis 6.17, fala-se sobre “um dilúvio de águas”. “Dilúvio” (que nos vem do latim, onde se relaciona com o verbo “lavar”) traduz o termo hebraico mabbul. (Em grego, a palavra usada é kataklysmós, de onde nos vem “cataclismo”.)

No livro de Gênesis, a história do dilúvio faz parte de uma seção mais ampla, que se chama “a história de Noé” (Gn 6.9, NTLH). Um detalhe interessante é que, em toda essa narrativa, Noé não diz uma única palavra. Noé fala apenas em Gênesis 9.25.

               O dilúvio foi o juízo de Deus que resultou da maldade das pessoas (Gn 6.5). Não temos a data do dilúvio, e tudo indica que as águas cobriram todo o planeta Terra (Gn 7.19). “Caiu chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites” (Gn 7.12). Isso, entretanto, não foi tudo. Tão ou mais importante foi o fato de que “romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram” (Gn 7.11). Ao criar o mundo (Gn 1.7), Deus fez separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas acima do firmamento. Também separou as águas debaixo dos céus da porção seca que chamamos de terra. O dilúvio rompeu a ordem estabelecida na criação. A terra voltou a ser um caos aquoso. Assim, o dilúvio (e o que veio depois dele) pode ser visto como uma nova criação. Houve um recomeço. A bênção que foi dada a Adão e Eva em Gênesis 1.27, por exemplo, foi repetida para Noé e seus filhos: “Sejam fecundos, multipliquem-se e encham a terra” (Gn 9.1).

O mundo depois do dilúvio

De que maneira o dilúvio afetou a superfície da Terra? Esta é uma das tantas perguntas que a Bíblia não responde. O mundo pós-diluviano é o mundo da Aliança com Noé, sob a qual ainda vivemos. O aspecto mais saliente dessa aliança é a promessa de que não haveria outro dilúvio e que a sequência de “semeadura e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” seria mantida (Gn 8.21-22). Outro detalhe bastante lembrado é que no mundo pós-diluviano a carne passou a fazer parte do cardápio autorizado por Deus (Gn 9.3-4). Menos lembrado, mas altamente importante, é que, no mundo após o dilúvio, o domínio do ser humano, que era pacífico no Jardim do Éden, passou a ser um domínio conflituoso. “Todos os animais da terra e todas as aves dos céus terão medo e pavor de vocês” (Gn 9.2). Além disso, diante da maldade inata do ser humano (Gn 8.21), passou a ser necessário o uso da força, para evitar o caos: “Se alguém derramar o sangue de uma pessoa, o sangue dele será derramado por outra pessoa” (Gn 9.6). O mundo pós-diluviano passou a ter uma ordem estabelecida, da qual passaram a fazer parte as leis e o Estado.

Ecos do dilúvio mais adiante na Bíblia

               A história do dilúvio aparece apenas uma vez na Bíblia, mas ecos dessa história podem ser ouvidos em outros textos. Em Isaías 54.9-10, o Senhor Deus lembra o juramento feito a Noé. Como havia jurado que “as águas de Noé não mais inundariam a terra”, agora Deus garante ao povo de Israel que a aliança de paz não seria removida.

Em Mateus 24.38-39, a vinda do Filho do Homem (Jesus) é comparada com os dias de Noé. As pessoas viviam despreocupadas, “até que veio o dilúvio e os levou a todos”. Assim será também a vinda do Filho do Homem. A lição é clara: “Vigiem!” (Mt 24.42).

O dilúvio num enfoque positivo

               Para muitas pessoas, especialmente crianças, o dilúvio é apenas “A História da Arca de Noé”. Animais entrando na arca de dois em dois, macho e fêmea (Gn 7.16), que quadro bonito! Esta visão mais romântica e ‘adocicada’ do dilúvio tende a suprimir o lado trágico, a destruição de todos os seres humanos (com exceção da família de Noé), porque a terra estava “cheia de violência por causa deles” (Gn 6.13). No entanto, esta visão positiva do dilúvio aparece também no Novo Testamento. Na Primeira Carta de Pedro, diz-se que, na arca, “poucas pessoas, apenas oito, foram salvas através da água” (1Pe 3.20). Nenhuma referência ao número de mortos, que é o que sempre aparece nos noticiários a respeito de enchentes. (Nesta enchente no Rio Grande do Sul, mais de 170 mortos.) Quantos foram salvos? Não temos os números. No caso do dilúvio, ninguém sabe quantos morreram. O que importa, segundo Pedro, é que oito pessoas foram salvas.

Essa salvação “através da água” do dilúvio tornou-se, na visão do apóstolo Pedro, um protótipo ou modelo do batismo, que “agora também salva vocês”. Água mata, mas água também salva. Em meio a enchentes e lembranças do dilúvio (também ao vermos água e lavarmos o rosto a cada manhã), que tal lembrarmos também que água salva? Fomos, de fato, salvos “através da água”, no batismo. Por meio dessa água são salvas não apenas oito pessoas, mas milhares, milhões, uma multidão tão grande que ninguém poderá contar (Ap 7.9).

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