Desculpe, mas eu sou sincero

O advento do sincericídio

Artur Charczuk
pastor e psicanalista
e-mail: [email protected]

Não, dizer tudo o que se pensa não é uma virtude. Sim, dizer tudo o que se pensa é uma virtude. Complexo, né? Claro, conforme nossas experiências de vida, podemos ter uma certa ideia acerca da sinceridade. Pensar sobre sinceridade na atualidade é algo que precisa ser minucioso e cauteloso. É um convite para você, leitor, vamos pensar sobre a sinceridade juntos?

Quando pensamos sobre ser sincero, a sociedade contemporânea oferece uma proposta de sinceridade – basta olhar para os programas no estilo reality show, seja qual for o assunto envolvido. A sinceridade é comparada a uma bomba relógio, tida como um ato sem pensar, sem limites, com negligência. Por consequência, a sinceridade vira um sincericídio, que é a aplicação da sinceridade sem inteligência. Assim, as mídias, as tecnologias oferecem uma sinceridade com contornos de sincericídio. É falar sem pensar no impacto das palavras na outra pessoa. É desconsiderar o que o indivíduo vai sentir, isto é, o que vai afetá-lo.

Sincericídio é a expressão desmedida de verdades, causando problemas e prejudicando relacionamentos. É a sinceridade usada como arma, em nome de uma suposta transparência. Na verdade, o sincericídio é uma forma de a pessoa esconder suas próprias contradições – é uma violência encoberta. O sujeito procura se amparar em uma dada potência, em uma parca superioridade. O outro é uma espécie de descarga emocional. Sinceridade e grosseria não podem caminhar juntas, jamais.

A sinceridade genuína é expor e não impor algo sobre o outro. Ela precisa acontecer com grandeza, logo, ser sincero é trazer empatia, cuidado, humanidade e assim por diante. Portanto, aquele velho clichê: “desculpe, mas eu sou sincero” precisa ser colocado no espaço certo: na sinceridade e não no sincericídio. E aí, leitor: é virtude ser sincero?

Dica: a sinceridade é uma fala de um para o outro, com palavras adequadas. Já o sincericídio não é uma fala para o outro, mas é um monólogo, uma compensação para encontrar sentido para as oposições internas a partir do sofrimento do outro.

Seja sincero, mas com palavras certas. E sempre amparados na Palavra de Deus. Aproximados de Deus e com um coração sincero. Coração voltado para a dependência de Deus, de Jesus Cristo. Bem sabemos que somos pecadores. No ser humano não existe sinceridade, portanto, a sinceridade do cristão é externa, está na confiança em Deus. Não é uma sinceridade das mídias, mas da cruz.

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