A autoestima de uma pessoa, ou seja, a percepção que ela própria tem de si, de suas qualidades e de seu valor vai sendo construída e modificada ao longo de toda a vida. Porém a infância é o período mais importante, ou seja, um momento determinante da vida em que sementes de amor próprio são plantadas. Sendo os pais os responsáveis pelo cuidado corporal, psicológico, social e espiritual da criança, são também eles que afetam de maneira mais intensa a sua autoimagem. São os pais, ou aqueles que exercem esse papel, que normalmente passam maior tempo com a criança e que determinam os primeiros círculos sociais de convívio da mesma.
As crianças dependem do amor incondicional e da aprovação dos pais. Assim sendo, uma criança exposta continuamente a críticas exageradas por parte dos pais ou de outras pessoas que lhe são caras, passa a incorporar a ideia de incompetência à imagem que tem de si mesma. Os elogios, por outro lado, quando sinceros e na medida certa, a fazem ter uma imagem positiva a respeito de si, incorporando também essa opinião dos pais a seu respeito. A baixa autoestima pode trazer inúmeros prejuízos à vida do indivíduo, iniciando já na infância, como, por exemplo, dificuldades de aprendizagem. O temor constante de não ser aprovado pelo outro gera insegurança e funciona como um bloqueio para a criança. A energia que poderia estar sendo investida na busca de conhecimento e no seu desenvolvimento fica estagnada.
Esta responsabilidade inerente aos pais muitas vezes lhes traz aflição. Na vivência clínica, essa aflição é apresentada com frequência, afinal não há como trazer respostas prontas para os pais sobre como agir em cada circunstância para potencializarem a autoestima dos filhos. Eu diria que a chave é o amor. Esse amor não exclui a crítica aos filhos, afinal ela é essencial para o desenvolvimento saudável do indivíduo. Porém é necessário estar atento à maneira como as críticas são dirigidas, apontando os erros de forma construtiva, a fim de fazer o filho crescer e não diminuir. Além disso, é importante estar atento à frequência das críticas em comparação aos elogios.
Um exemplo prático talvez seja oportuno: ao observar que o filho não está cumprindo uma proibição pré-estabelecida pelos pais, dizer ao filho que ele “é” desobediente seria como colocar um rótulo sobre ele. Assim, a afirmação constante de que ele “é” desobediente pode fazer com que ele passe a atender a esta declaração dos pais. Se os pais dizem que ele o “é”, de fato ele pode passar a ser e a se perceber como um indivíduo que não consegue cumprir regras. Melhor seria, portanto, diante de uma ocasião em que o filho descumprir uma regra ou proibição, falar de maneira clara que ele “está sendo” desobediente, explicitando de forma concreta quais as condutas dele que o fazem ser, naquele momento, uma pessoa desobediente. É importante também mostrar qual seria a maneira positiva de se portar naquela situação, oferecendo assim oportunidades para que ele saiba como agir de maneira diferente em outra ocasião. E se ele conseguir agir de maneira positiva em outra situação semelhante, é igualmente importante elogiar a sua conduta, a fim de reforçar o comportamento positivo.
É preciso demonstrar à criança, de maneira clara e direta, que ela é amada. Sentir-se amada é essencial para que se desenvolva com segurança e atribuindo valor a si mesma. E, tendo em vista que estamos em constante desenvolvimento, mesmo que a autoestima de uma pessoa seja baixa, causando-lhe sofrimentos constantes, se ela assim o desejar, haverá a possibilidade de modificar este quadro. Neste sentido, a psicoterapia é uma possibilidade interessante. Ao falar da relação que se estabelece durante a psicoterapia, Hycner (1995)* afirma, a respeito de quem busca a psicoterapia, que a relação de confiança com os outros foi danificada e, portanto, não está inteira. O restabelecimento desta conexão pode não ser algo imediato, mas certamente permitirá um desenvolvimento mais saudável da relação do indivíduo consigo mesmo e, consequentemente, com o meio em que vive.
Gerusa Mass
Psicóloga
CRP 14/06498-1, Dourados MS
*HYCNER, Richard. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus, 1995.
*Texto publicado no Mensageiro Luterano de setembro de 2016.